Na postagem de quarta-feita última, dia 15/05, eu publiquei uma poesia/composição musical, intitulada “Bocas”, feita em parceria, que teve como ponto de partida a conhecida música “Como nossos pais”, do consagrado cantor e compositor Antônio Carlos Belchior, que faleceu em abril de 2017.
Sendo assim, não poderia deixar de mencionar um momento muito especial que tive, ao conhecer esse artista pessoalmente, em dezembro de 2000. Apesar de não me lembrar com exatidão como fiquei sabendo, o fato é que chegou até mim a informação de que Belchior estaria se apresentando em um determinado barzinho, localizado na Rua do Porto, em Piracicaba-SP, cidade onde nasci e ainda resido.
Embora seja um local destinado ao turismo, situado às margens do Rio Piracicaba, com dezenas de bares de pequeno porte, procurados pelas famosas porções de peixe, acompanhadas de cervejas ou sucos variados, não costuma ser um lugar apropriado para apresentações artísticas de alguém renomado. Embora não existissem as chamadas “fake news”, fui até onde o artista supostamente se apresentaria, não acreditando totalmente que poderia ser verdade. Na pior das hipóteses, eu iria saborear alguma coisa, num final de tarde do último verão do século. Felizmente, na hora e local informados, eis que surge, finalmente, Belchior!
Assim, de uma distância inferior a dez metros, foi possível assistir a sua forma pessoal de interpretar algumas das mais famosas composições, ele mesmo, ali sentado num banquinho e acompanhado do próprio violão. Dentre as músicas, não poderia faltar, é claro, “Como nossos pais”, considerada por especialistas uma obra prima da MPB.
Depois do show intimista, foi a vez da “tietagem”. Alguns fãs se apresentarem para tirar uma foto com o artista e eu, evidentemente, não poderia perder essa oportunidade. Numa das imagens aqui publicadas, junto com Belchior e eu, está meu irmão Alex, professor universitário, escritor e também outro coautor da música “Bocas”, inspirada na sua composição. Pelas imagens, dá para se ter uma ideia de trata-se de um local modesto, devido ao aspecto do “camarim” visivelmente improvisado.
Foi uma das maiores lições de humildade que eu vi pessoalmente num artista. Mesmo sendo ele alguém do quilate que era, colocou-se numa posição de igualdade com o público que o procurava, sempre com muita simpatia e total atenção.
Apesar de não haver cobrança de ingresso ou coisa do gênero, sua postura foi de uma pessoa repleta de simplicidade. Em pouco mais de um minuto de contato, estava eu lado a lado com uma celebridade, mas que comportou-se como sendo “apenas um rapaz latino-americano”, título de um de seus primeiros sucessos.
Muito obrigado, Belchior, pela atenção e pelo talento que inspira!
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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini -----------------------------------------
“Uma imagem vale mais que mil palavras”, diz uma expressão atribuída ao filósofo chinês Confúcio, que tornou-se um dito popular muito conhecido. Millôr Fernandes, por sua vez, tomou esse pensamento milenar e sugeriu: “se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isso com uma imagem”.
Assim, antes do surgimento da escrita, e na falta de propagação de imagens, toda a sabedoria que desembocou nos dias atuais foi transmitida de forma verbal, ou, “boca-a-boca”, de pessoa para pessoa.
O cantor e compositor Belchior mencionou em sua música “Como nossos pais” o seguinte verso: “para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua, é que se fez o seu braço, seu lábio e a sua voz”. Desse modo, além de se expressar através da fala, a boca pode ainda demonstrar sentimento através do beijo, por exemplo.
E foi justamente esse trecho da composição o ponto de partida. Bocas que também se alimentam, sorriem e cantam, além de acompanhar a dor de um choro, silenciar por vontade própria, ou calar-se por imposição. Daí veio à tona a poesia/música “Bocas”, composta em parceria com Zé Roberto e Alex, há mais de 20 anos, baseada numa época em que o mundo tinha seus conflitos inerentes àquele momento.
Apesar de gostar mais da forma mais livre de poesia, não me prendendo muito a estruturas poéticas, certa vez me disseram que esse texto caracteriza-se como sendo “anáfora”, que é a repetição de uma ou mais palavras no início dos versos.
O tema abordado na composição não era algo exclusivo daquela época, uma vez que, “desde que o mundo é mundo”, aquilo que menciona o conteúdo é algo recorrente. No entanto, ao tomarmos contato com as informações que temos acesso nos dias de hoje, infelizmente talvez essa letra seja mais atual ainda.
Sempre se falou em amor, mas não de maneira tão superficial. Nunca se viu tanta fome, mas poucas vezes de forma tão cruel. A necessidade de se expressar sentimentos tem extrapolado o que se convencionou chamar de urgência. A violência e armamentos sofisticados jamais mataram tanto.
A gravação foi feita em estúdio amador, mas entendo que reúne condições para ser ouvida com um mínimo de qualidade. Provavelmente uma produção profissional, preenchida com vocais, por exemplo, pudesse realçar e valorizar a composição. Embora não seja uma música considerada “comercial”, às vezes a imagino na voz de algum artista conhecido do grande público (não custa sonhar!).
Penso ser o tipo de canção capaz de instigar a nossa reflexão sobre a necessidade de se ter vez e voz no mundo, justamente numa época em que botões e gravatas deliberadamente sufocam nossa garganta, não apenas dificultando a respiração, mas, principalmente, para interferir na nossa “inspiração”.
Como poema, o texto foi publicado na página 22 de meu livro “Arcos e Frestas”, em 2003. Como composição musical, espero que essas “Bocas” consigam gritar essa tal realidade em que vivemos, como no refrão, que traz consigo um misto de alerta e clamor. Que a ausência de tempo não nos impeça de ver com a devida clareza e com a dose de humanidade que tanto está em falta ultimamente!
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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO: O texto foi publicado na "Revista Vicejar", em 15.05.2019, onde o escritor possui vários textos de sua autoria, atuando como Colaborador do Blog. Para ler mais acesse:
Apesar
da sórdida tentativa de se reduzir a mulher a um mero “produto de uma
fraquejada”, aquelas que decidem pela maternidade, principalmente, mostram uma
força e uma coragem que jamais poderá caber em algum homem, mesmo revestido de
eventual poder passageiro.
Além
de abrir mão de sua vaidade pessoal, uma gravidez envolve enormes riscos à
saúde e à própria vida, para se gerar uma nova vida. Quem sabe um dia a lente
machista caia por terra e o homem, finalmente, tenha mais respeito e reconheça
todo o real valor que sempre foi negado às mulheres!
Que
seria do mundo sem a imprescindível aura feminina?
Parabéns
por essa força, que somente o chamado “sexo frágil” é capaz de ter!
Amanhã,
dia 12/05 (segundo domingo do mês de maio), comemora-se no Brasil o “Dia das
Mães”.
Para
quem já não a tem ao seu lado, que a saudade faça com que possa abraçá-la com seu
coração.
Para
quem ainda tem esse privilégio, faça o possível para “colar” seu coração junto ao dela, não
somente fisicamente, mas, principalmente, emocionalmente. Aproveite esse momento (além de outros),
antes que ela se torne apenas uma lembrança, a ser fustigada pela saudade.