Verbo "selecionar"
Não gosto muito da máxima de que o Brasil “é a pátria
de chuteiras”. É claro que nosso país é muito mais que seus times e a
Seleção Brasileira. Mas, como o futebol, ainda, é o esporte mais popular e
envolve vários segmentos, não seria fora de propósito fazer uma análise após a
divulgação do nome do “novo” técnico da nossa Seleção, depois da pífia
participação no Mundial. Foi acesa a luz amarela depois da Copa deste ano, mas parece que os dirigentes ainda continuam daltônicos.
Se bem que eu tenho minhas restrições ao uso do termo
“dirigente” para quem está no comando da CBF. Entendo que para ser conhecido
como diretor, a pessoa precisa ter reconhecida capacidade e experiência,
demonstrada ao longo de anos de planejamento e trabalho, para só depois
estar apta a dirigir. Acredito que a expressão adequada para designar
as pessoas atualmente ligadas à CBF seja “cartola”, já que podem estar a
serviço de uma série de interesses questionáveis.
Na mesma linha de raciocínio, penso que o termo “técnico”
também está desvirtuado, de certa maneira, já que, salvo engano, não
existe realmente um Curso Técnico para profissionais de Futebol no Brasil. Portanto,
Dunga e aqueles que o antecederam não poderiam ser assim chamados;
prefiro o termo “treinador”. Mas como Dunga chegou pela segunda vez a essa
função na Seleção?
Desde as categorias de base do Internacional, o jogador
Dunga se destacava mais pela eficiência na marcação, o que, convenhamos,
é um ingrediente importante. Contudo, técnica e habilidade nunca foram suas
principais qualidades, conforme suas atuções em outros clubes brasileiros. Suas passagens
por times tradicionais como Corinthians, Santos e Vasco não deixaram saudade.
Quem sabia ou ainda se lembra disso?
Pesa a seu favor, por exemplo, sua passagem pela Itália (1987 a 1993), porém pouco expressiva, e ter jogado pelo Stuttgart,
no respeitado Campeonato Alemão (1993 a 1995). Apesar de competitivo, naquela
época o futebol alemão vivia ainda a predominância dos fatores força e preparo
físico, em detrimento da técnica e do futebol com qualidade. No atual patamar
da Seleção da Alemanha, a meu ver, não seria digno de desatar o nós das chuteiras de Kroos e
Schweinsteiger, que atuam nas mesmas posições em que ele jogava.
O fato de ter sido escolhido o melhor jogador do futebol
japonês em 1997, a
meu ver, só faz coro ao dito popular de que "em terra de cego...". Daí a se valer num desses
quesitos para ser colocado num patamar de um jogador taticamente importante,
tudo bem. Mas, pelas mesmas razões, o considerarem um astro internacional, a
ponto de ser convocado para três Copas do Mundo, aí já é demais! Até a imprensa
o elevar à condição de “líder natural” de 1994, aqui no Brasil, pouca gente o
colocava sequer na condição de “selecionável”.
Depois de que o Brasil foi eliminado na Copa de 1990, a mídia, acostumada a
rotular pessoas e acontecimentos, usou e abusou da expressão “Era Dunga”,
quando se referia ao fracasso naquele Mundial. De forma pejorativa, o nome do
atleta foi vinculado à maneira limitada e inexpressiva com que Seleção se apresentou naquela oportunidade.
Entretanto, quatro anos mais tarde, o Brasil sagrou-se
campeão da Copa sediada pelos Estados Unidos e, por ser Capitão e um dos
principais nomes da equipe, passou a ser símbolo de liderança e futebol
aguerrido, muito mais pelos seus berros dentro de campo do que propriamente
pela qualidade de seu futebol, que, inegavelmente apresentou evolução. Sendo
assim, de jogador reconhecidamente de futebol burocrático e limitado em 90, foi
guindado pela mesma imprensa à condição de ídolo, que até passou a chamá-lo de
“vencedor”.
Porém, na sua terceira participação em Copas, tudo voltou
ao normal e tornou a ser novamente derrotado, embora dessa vez na final contra
a França, equipe anfitriã daquele Mundial, passando a ser questionado mais uma vez. Com esse retrospecto, entendo que Dunga não deva ser lembrado
unicamente de forma negativa, mas também acho exagerado que seja chamado
exclusivamente de “vencedor”. Se tomarmos por base que o motivo que o levou a
ser chamado dessa forma foi o fato de ter conquistado uma Copa do Mundo, por
ter participado de três edições, o placar lhe é desfavorável: Eliminação 2 x 1
Êxito.
Cabe, agora, uma análise sobre o treinador Dunga. Se por
um lado ele reúne algum mérito como jogador pelas convocações, sua indicação
como treinador para 2010 não é somente questionável, mas inexplicável. Num
raciocínio muito coerente, Dunga não poderia jamais ser considerado o melhor
nome para treinador, justamente porque, pasmem, ele nunca tinha sido treinador.
Portanto, impossível de se fazer uma avaliação. E, então, aquele que passou a
ser sem nunca ter sido, criou Felipe Melo à sua imagem e semelhança. Desse
modo, tendo como referencial um jogador ainda mais limitado, o Brasil foi
eliminado em 2010 pela Holanda, em lances cruciais, com de participações negativas
de “sua criatura”.
Importante ressaltar que Felipe Melo era um ilustre
desconhecido, até ser chamado por Dunga. Depois de seguidas convocações, foi
contratado pela toda poderosa Juventus de Turin, sem nunca ter correspondido ao investimento da equipe italiana, sendo alvo de muitas críticas.
Outros atletas convocados por ele naquela época também tiveram destinos semelhantes. Agora, o “braço-direito” de
Dunga é Gilmar Rinaldi, um ex-goleiro, que atua como empresário de jogadores.
Por isso, é inevitável que não sejam levantadas suspeitas de que a CBF se transforme (ou continue a ser) um “grande balcão de negócios”.
Talvez, querendo provar sua competência à torcida e a
imprensa, com quem nunca teve bom relacionamento, Dunga tornou-se, finalmente,
treinador de um clube, assumindo o comando do Internacional de Porto Alegre em
dezembro de 2012, time que o revelou como jogador. Para seu infortúnio, apesar
de campeão gaúcho, nem a agremiação com tem um vínculo histórico foi capaz de
mantê-lo no cargo e acabou por demiti-lo menos de um ano depois, em função de
resultados insatisfatórios.
Agora, poucas semanas depois do fiasco do time de Felipão
na Copa de 2014, os “iluminados” da CBF comunicam que o “novo”
treinador da Seleção é Dunga, nome mais uma vez discutível, principalmente se
tomarmos como referência o seu currículo à frente de uma equipe de futebol.
Quando se esperava uma mentalidade mais moderna, no lugar de algo novo nos
deparamos com o “de novo”.
E por essa e outras que a "visão nanica" dos representantes
da CBF nos remete, obrigatoriamente, a uma situação de “conto de fadas”. Assim,
o cidadão Carlos Caetano Bledorn Verri, ex-jogador e treinador desempregado, mais
conhecido por Dunga, apelido baseado em um dos “sete anões”, volta a ter a
missão de treinar aquela que já foi a Seleção que jogava o melhor futebol do
planeta. Quando todos esperavam a vinda de um “Mestre”, o torcedor, que queria estar “Feliz”, poderá ter muitos motivos para ficar “Zangado”. Perdoem-me pelos clichês.
É possível ganhar a próxima Copa?... Bem, tudo é possível,
já que o futebol é um esporte também regido pelo signo do imponderável. Como em
outras oportunidades, muitas vezes o talento individual acaba nos redimindo da
falta de planejamento e competência. O certo, no entanto, é que o caminho
escolhido é reconhecidamente nebuloso. Sai a figura caricata de Marin e entra
del “Nero”, um nome sugestivo para reduzir o futebol brasileiro às cinzas.
Para finalizar, quase ninguém se dá conta de que a palavra
“Seleção” é, antes de mais nada, derivada do verbo selecionar, do ato de
apartar e apresentar aquilo que se tem de melhor. Numa estrutura em que se
começa não selecionando dirigentes, nem treinadores e, por conseqüência, nem
sempre os melhores jogadores, pouco ou quase nada podemos esperar. Com base em
estudos científicos, convém lembrar que a chamada lei de “seleção natural”, ao
longo do tempo, sempre acaba sendo cruel com aqueles menos capacitados...
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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO:
Se existe alguma coisa de positivo nessa escolha movida pela "policagem" e falta de bom senso, eu penso que seria o fato de eu passar a me dedicar meu tempo a outras coisas mais importantes.
Quando terminei de escrever o texto na sexta-feira, dia 25/07, tomei conhecimento de que o jornal "Folha de São Paulo" veiculou a notícia que a Receita Federal estaria cobrando do agora treinador Dunga o valor de R$ 907 mil, por não ter pago imposto sobre o dinheiro movimentado no exterior no ano de 2002. Evidentemente que nem toda denúncia é definitivamente sinal de culpa. Mas para quem recai sobre ele algumas outras suspeitas, convém ficar atento também com relação a esse assunto.
Para criação da imagem, foram consultados os sites: pt-br.disney.wikia.com e futebol.radiomania.com.br.
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