“Benjamin Button” e o eterno desejo de rejuvenescer
Produção de 2008, baseada no conto homônimo de
F. Scott Fitzgerald, “O curioso caso de Benjamin Button” traz no elenco nomes como
Brad Pitt e Cate Blanchett. Foi um dos filmes que mais concorreu ao Oscar, com 13 indicações, conquistando
apenas três, em categorias voltadas ao quesito visual.
Conta a
história de Benjamin, um homem que nasce em 1918 com aparência e
características de envelhecimento e, devido ao seu aspecto incomum, é
abandonado pelo pai após a morte da mãe, logo depois do parto. Ele, então, é
encontrado por Queenie, que trabalha em um Lar para idosos, que passa a criar o
menino. Convive em igual condição com os outros moradores, apesar de sua mente
ser como a de um garoto; inseguro e curioso sobre a vida.
Ainda na
infância conhece a menina Daisy, que se tornaria seu grande amor. Benjamin, no
entanto, tem uma característica curiosa. Diferentemente dos demais, ao invés de
manter ou adquirir novas rugas, ele vai rejuvenescendo, o que torna o filme
intrigante.
Agostinho de
Hipona:
O tempo muitas vezes foi objeto de reflexão da Filosofia. A literatura
também se serviu de conceitos temporais como pano de fundo em narrativas de
ficção, como é o caso de Benjamin Button. A ideia surgiu depois que Fitzgerald
leu a frase de Mark Twain: “A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos
nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”.
Essa subversão na cronologia nos remete ao pensamento de Santo Agostinho,
que dizia ser o tempo essencialmente psicológico. Desse modo, o passado não
existe, pois é uma lembrança; o presente não passa de uma percepção, ou
intuição, e o futuro é algo que nunca aconteceu e, portanto, é apenas uma
expectativa.
Kant e Heidegger:
Segundo o filósofo alemão
Immanuel Kant, o tempo (além do espaço) é uma condição de possibilidade da
experiência, não sendo, portanto, uma realidade, já que não é visível, nem
tangível e trata-se de uma intuição antes da experiência.
Assim, a capacidade de intuição, em conjunto com a capacidade
de pensar, é responsável pela organização das informações dos sentidos e
permite por meio da reflexão o surgimento do conhecimento humano. Podemos,
portanto, questionar a respeito de nós mesmos; ou seja, porque nossa
natureza é nascer criança e morrer velho?
Interessante mencionar, ainda,
Martin Heidegger, que tratou de algo muito visível no personagem; a angústia. De
acordo com esse outro pensador alemão, angústia é uma insegurança que sentimos
da nossa própria existência perante o mundo, isolados de tudo; uma solidão,
inclusive, perante a nossa condição humana, em que o futuro não oferece nenhuma
forma de garantia.
Não importa se o tempo é
uma ilusão ou uma intuição, que age no sentido de contribuir para a aquisição
de conhecimento. Independente de nos envelhecer ou remoçar, em ambos os casos
necessitamos nos submeter a uma experiência de vida, dentro de um período, com
o objetivo (talvez) de adquirir conhecimento e consciência para nossa evolução.
Não estamos imunes ao mesmo fim
É curioso notar nossa
insatisfação com relação ao tempo. Quando somos crianças, torcemos para ser
rapidamente adultos. Ao avançarmos na idade adulta, queremos colocar um freio
no tempo. Assim que nos aproximarmos da velhice, gostaríamos que nossa idade
retrocedesse gradualmente, a ponto de nos tornarmos novamente jovens, conforme
sugere o autor F. Scott Fitzgerald.
Ao refletirmos sobre o
filme, percebemos que um eventual processo de inversão da idade, partindo da
velhice, só alteraria a cronologia e aspectos das características físicas. Embora a maioria das pessoas se queixe do natural
processo de envelhecimento, se o tempo caminhasse no sentido oposto, não
estaríamos imunes ao nosso inevitável destino.
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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO:
Um filme curioso, como mencionado no
título, mas, acima de tudo, sensível, que nos convida a uma reflexão sobre a
inevitável passagem do tempo e suas consequências. Destaque para as atuações de
Brad Pitt e Cate Blanchett, além da bela ambientação de época.
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