Quando menino, sentia que tempo
passava devagar e, como toda criança, tinha pressa de crescer e ficar adulto.
Fui me formando nos chamados graus escolares e procurando galgar alguns degraus
que a vida foi me apresentando.
Dentre as coisas que li e ouvi, uma das mais
marcantes foi, sem dúvida, que nós devemos “fazer do obstáculo um degrau e não
do degrau um obstáculo” (desconheço a autoria). Entretanto, ninguém nunca me
disse como fazer para seguir, quando nossas passadas são menores que o obstáculo à nossa frente.
Sou de uma família de descendente de italianos e, como
em todo grupo familiar, de qualquer nacionalidade, seus integrantes têm qualidades
e características a serem melhoradas. Vez por outra encontro-me com familiares
e parentes em algumas ocasiões festivas, ou em acontecimentos não tão alegres
assim.
Profissionalmente, comecei a trabalhar há pouco mais
de 47 anos, mas parece que nem faz metade desse tempo. Pude ver que muitas
profissões, algumas antes invejadas, perderam o prestígio, ou, então, simplesmente
desapareceram. Outras jamais imaginadas aí estão e não se sabe mais quais ainda
virão ou deixarão de existir.
Ao longo dos meus 60 anos,
completados agora em março, fica fácil perceber que o “homo sapiens” tem se
tornado cada dia mais um ser tecnológico que humano. É triste saber que,
atualmente, a população de um determinado lugar é estimada muito mais pelo
número de consumidores em potencial, que propriamente pelo de moradores.
Vejo que, na ânsia por um consumo
desenfreado, o mundo está sendo consumindo pela ansiedade. Sinto que o dinheiro
é como um “vírus”, capaz até mesmo de matar, mas as pessoas não se importam em
viver em constante estado febril.
Na emergência desse momento
delicado que o mundo está atravessando, é importante ver a união das pessoas
numa cruzada pela saúde física e, ao mesmo tempo, notar a falta de percepção para
constatar que o que tem imperado até então é uma espécie de “insanidade mental”,
movida pelo egoísmo e por interesses.
Tenho observado que a paz tem
sido o intervalo entre conflitos, quando deveria ser um estado de espírito. E o
pior é que fica fácil constatar qualquer limitação em outros seres humanos, mas
é relativamente difícil apontar nossos próprios erros, por menores que sejam.
Recordo que antigamente as
relações interpessoais eram diferentes, talvez não mais fáceis, mas, sem
dúvida, mais simples. Tive que me adaptar a esse tal mundo digital e o lado bom
de tudo isso é que passei a conhecer pessoas incríveis, com quem costumo manter
contato do “lado de lá da tela”, não somente em vários cantos do Brasil, como também
do outro lado do Atlântico!
Assim como nas redações do tempo
de escola, sigo escrevendo meus textos, agora sem me preocupar com avaliações e
notas, e fico feliz em saber que as pessoas se interessam em lê-los. Embora
estejam sujeitos a críticas, tenho o privilégio de ser agraciado por
comentários positivos e repletos de gentileza.
No que se refere às questões da vida pessoal, tenho
muito mais a agradecer do que pedir. Vivi emoções maravilhosas, dentre as quais
eu destacaria o meu casamento e o nascimento de minha filha. Nas minhas
orações, sou grato por elas fazerem parte da minha vida e não me imagino mais
sem elas.
Olho à minha volta e vejo uma
grande quantidade de pessoas que não conheceram os pais, ou que tiveram pouca oportunidade
de conviver com eles. Eu, entretanto, chego aqui tendo ambos vivos, próximos de
mim e com saúde, na medida do possível. Considero que isso seja uma benção
a ser agradecida continuamente. Dentre os revezes da vida, sobrevivi a cada
perda de entes queridos, para depois, a cada dia, morrer de saudades de todos
eles.
Como a sociedade gosta de
rótulos, agora passarei a ser chamado de “idoso”. Outra maneira de referir-se
especificamente a essa “nova idade” é dizer doravante que sou um “sexagenário”.
Eu, de minha parte, por minha conta e risco, decidi reduzir essa incômoda expressão
para “sexy”. Portanto, finalmente tornei-me sexy!
Estatisticamente, já passei da
metade de minha trajetória, mas nunca me pautei por dados estatísticos. Apesar
de boa parte de meus cabelos brancos dizerem o contrário, sinto-me ainda (quase)
um jovem. Frequentemente me ponho a brincar com minha filha e fico em dúvida se
isso agrada mais a ela ou a mim.
O menino que mora dentro de mim tem dificuldade de
imaginar que seis décadas já passaram pela retina. Pensava que a essa
altura saberia tudo sobre a vida, mas vejo que sou um eterno aprendiz no que se
refere ao mundo e também a meu respeito Se eu tivesse que definir “60 anos”, eu
diria que é um período que passa depressa demais!
Lembrando o genial Ariano
Suassuna, penso que eu poderia ser considerado “um realista esperançoso”. Por
ser incorrigível, em certos aspectos, tenho dentro de mim um lado que gosta de acreditar
que eventuais contratempos são possíveis de ser superados, de alguma maneira. Isso
me impulsiona na direção do que ainda me permito sonhar!
Para finalizar, certa feita li uma frase, que vi
como sendo um provérbio português: “o tempo é o senhor da razão”. Pois
constantemente reflito e me pergunto sobre seus propósitos. Acredito que esse
tal “senhor” deva ter lá suas razões para insistir que a vida ainda continue a
me reservar incontáveis emoções.
Sou
muito grato por tudo, Senhor!!!
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