IMERSOS:
Quando vivemos do passado,
pensamos navegar os imensos
mares de nossas lembranças.
Mas que engano o nosso!
Nós estamos, na verdade,
(in)devidamente imersos
no esquecimento de viver.
- RECANTODAS LETRAS: recantodasletras/Pirafraseando .
IMERSOS:
Quando vivemos do passado,
pensamos navegar os imensos
mares de nossas lembranças.
Mas que engano o nosso!
Nós estamos, na verdade,
(in)devidamente imersos
no esquecimento de viver.
PORTOS:
Porto Alegre, Porto Rico, Porto Seguro...
Talvez por isso continuamos a navegar, enfim.
Esperançosos, seguimos viagem ao futuro,
desejando que todos os portos sejam assim.
PELA VIDRAÇA:
No lado de fora,
vejo através do vidro
a chuva caindo branda,
gotejando prata,
rabiscando luminárias
e tilintando ritmada.
Escorrendo pelo asfalto
vai molhando a noite
e minimizando o breu.
Do lado de dentro,
percebo-me esmaecido
no reflexo da vidraça.
Os pingos se debatem,
umedecendo a transparência.
Aqui, no interior de tudo,
desejo calma de garoa.
Só, lido com tempestades;
trovões e relâmpagos 'do eu'!
CINZA (cena de outono):
A tarde estava
tão cinza de quietude,
naquele vazio e exato momento,
que mesmo uma brisa,
em tom de virtude,
faria colorir qualquer movimento.
POESIA:
Luzes que vagam na lembrança .
_____Desde o início deste ano tenho me lembrado com frequência da casa onde nasci. Uma casinha bem simples, construída no fundo de um terreno, e que tinha apenas três cômodos. Sala, cozinha e um único quarto, com um banheiro do lado de fora, próximo a um pequeno rancho que abrigava o tanque de lavar roupas.
_____Ficava na última rua do bairro, sem asfalto. Para dar mais “segurança”, uma cerca de bambu foi “edificada” na frente da casa, a poucos metros do acanhado terraço da sala. O chão de todos os cômodos era de tijolos e no alto as telhas eram visíveis, pois não havia forro. Isso quer dizer que no verão o interior da casa era “um forno” e no inverno as frestas não davam conta de segurar o vento frio, se muito forte.
_____Moramos nela até quando eu tinha pouco mais de seis anos e depois mudamos para uma nova casa na frente do mesmo terreno, dessa vez com todo o “luxo” de se ter quatro cômodos; ou seja, um dormitório a mais. Desse modo, deixamos de habitar uma casinha de fundo, para viver numa outra em que um vitrô e uma janela tinham a calçada por companhia. A rua continuou sem ser pavimentada ainda por mais algum tempo.
_____Apesar das dificuldades, tenho muita saudade de como a vida era simples. Sem ter aparelho de televisão, ao anoitecer a simplicidade convidava as crianças a olharem para o céu e observar as estrelas. Ou, então, admirar as “estrelas voadoras”, querendo iluminar as verduras da pequena horta, ou esparsas margaridas na cabeceira dos poucos canteiros.
_____Era maravilhoso ter alguns singelos pontos brilhantes, numa época em que não era comum instrumentos portáteis, pois o uso de objetos com pilhas ainda era uma raridade para o poder aquisitivo da maioria. Para clarear aqui ou ali, era preciso servir-se com cuidado de uma lamparina com querosene. Tarefa essa destinada a um adulto, é claro!
_____Desse modo, numa atmosfera de luzes tímidas e escassas, ali diante de nossos olhos, podíamos ver o bailado encantador de alguns vagalumes. Depois de crescido vim saber que também são conhecidos como pirilampos. Mas porque agora fui me lembrar de vagalumes?
_____Curiosamente (mas foi muita coincidência, mesmo!), numa dessas noites da semana passada, vi no chão da minha cozinha um inseto, com todas as características de um vagalume. Cheguei a ficar em dúvida, mas o menino que mora dentro de mim afirma categoricamente tratar-se de um vagalume.
_____Minha filha nunca viu um deles e, por essa razão, pensei em chamar ela e minha esposa, mas desisti. Como em nenhum momento o inseto esboçou qualquer sinal de luz, parecendo não estar portando sua “lanterna natural”, tudo que fiz foi recolhê-lo com cuidado numa pequena recipiente e colocá-lo próximo a algumas plantas, no pequeno jardim do lado de fora.
_____Logo depois de entrar e fechar a porta, o olhar percorreu o ambiente onde moro e um “filme” passou rapidamente pela minha mente. De uma residência de três cômodos, para uma casa com mais conforto. No interior dessas paredes, objetos que simbolizam alguns sacrifícios e alegrias de se chegar até aqui.
_____A diferença também podia ser percebida no lado de fora. Foquei o olhar na direção do lugar escuro em que tinha deixado o vagalume e tentei buscar pelo menos um mínimo de luz, mas não vi nenhum vestígio.
_____Tornei a recordar da casinha onde nasci. Apensar de não morar mais nela, constatei que ela continua a morar dentro de mim. Lembrei também das luzes dos vagalumes e de toda a magia que elas continham.
_____Mas somente agora me dei conta da intensidade delas. E de tão intensas, atualmente chegaram a provocar certo incômodo nos meus olhos, a ponto de verterem algumas gotas de saudade para aplacar o ardor de lampejos intermitentes, de um tempo que repousa num canto qualquer da memória.
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PAISAGEM DA ALMA:
A poesia é beleza,
a paisagem da alma
que (en)canta lá no alto,
conduzida pelo vento...
(Re)pousada na leveza,
que permeia e acalma
as planícies e planaltos,
onde moram sentimentos.
CONTRACENAR: