domingo, 12 de junho de 2011

MINHA CRÔNICA:

Davi e Golias

Ao longo do tempo, o cinema, a chamada “Sétima Arte”, tem conseguido transferir para as telas muitas obras de ficção e, não tão raramente, acontecimentos da vida real. Muitos filmes tornaram-se clássicos, enquanto que, em outros casos, foram as versões mais recentes que alcançaram o sucesso esperado.
No entanto, é extremamente raro nos depararmos com situações em que a vida imita a arte. Prova disso é o que os expectadores puderam presenciar no Estádio “Sinhoretão”, no último sábado. Lá, todos nós fomos brindados com o clássico “Davi e Golias”, versão que o destino preparou para esse início de 2011. O roteiro foi seguido “à risca”. E por falar em risca...

A cal delimitou minuciosamente o espaço reservado para o momento. O tapete verde, cuidadosamente aparado na segunda altura, pronto para ver ali desfilar um craque de primeira grandeza, porém nem tão grande assim.

Parecia mais uma daquelas tardes de sábado, esperada a semana inteira por muita gente. Mas aquela “esperada” tarde de sábado não estava preparada para o inesperado. Foi ali que o nosso personagem principal, que parece ter saído do filme “As aventuras de Gulliver”, pisou no gramado sagrado para ser imortalizado.

Para compor melhor o cenário “holliwoodiano”, as nuvens resolveram dar o ar da graça para amainar a canícula vespertina, enquanto que uma leve brisa aproveitava a oportunidade para permear a paisagem e, em especial, acariciar o bigode daquele que estava prestes a se tornar o herói da tarde.

Num lance de rara felicidade, Ricardo Maurício (ou seria Maurício Ricardo?) vislumbrou o deslocamento tempestivo de Carvalhinho dentro da área adversária, e alçou a pelota em direção ao atleta.

O goleiro adversário era Rodrigão e na sombra do destemido atacante estava o pobre Tiago Rola, com a missão impossível de marcar aquele que todos sabem que é imarcável. Além de imarcável, Carvalhinho é o tipo do sujeito que nenhum time tem a ousadia de negociar ou emprestar. Portanto, trata-se de um atleta inegociável e imprestável.

A bola milimetricamente lançada, percorreu a distância necessária para encontrar a cabeça do gênio, que saltou cerca de 10 centímetros, isso mesmo, quase a sua própria estatura, e não titubeou em imprimir a direção correta à meta adversária.

A esfera encobriu o goleiro e caprichosamente beijou o travessão. Por uma fração de segundo, parecia que o destino tinha definido que esse seria o único desfecho para o lance. Contudo, o próprio destino tratou de reescrever o roteiro e permitiu que a bola batesse na travessa superior e tocasse na parte posterior do braço de Rodrigão, com o propósito de dar ao goleiro a falsa impressão de que era possível uma defesa.

Ao tocar no antebraço do guarda-metas, a bola prosseguiu o seu curso natural, transpassando a linha do gol com um quique e indo ao encontro das redes que a acolheram para, finalmente, descansar no tapete esverdeado.

Carvalhinho apenas vibrou discretamente, num sinal de humildade pouco comum a desportistas considerados fora-de-série como ele. No entanto, numa atitude totalmente contrastante a do craque, a torcida enlouquecida invadiu o gramado para abraçá-lo.

E foi ali, no centro do gramado, que o ídolo se tornou o centro das atenções e seus admiradores puderam comemorar freneticamente com seu ídolo maior (maior?!). Em razão da invasão de torcedores, todos nós estamos cientes de que o “Sinhoretão” deverá ser interditado. Mas fica a torcida para que o TJD leve em consideração que a invasão não foi uma atitude de violência, mas de reverência ao ídolo.

Dessa forma, o talento prevaleceu sobre a força e, mais uma vez, num momento de grandiosidade, o menor se impôs ao maior, nessa versão contemporânea de Davi e Golias, mostrando que o atacante “Pequeno Polegar” é bom pra Carvalho.

Para alguns, Carvalhinho pode não ser propriamente comparado a Davi. Mas para todos, Rodrigão é o melhor exemplo de Golias. Mas não aquele personagem mencionado pela história. Na verdade, comparam Rodrigo à Ronald Golias, já que o futebol apresentado por ele ultimamente, tanto no gol como “na linha”, tem sido uma verdadeira comédia, que faz rir, especialmente, seus adversários.

Se para Sansão, outro personagem da história, o seu ponto forte eram os cabelos, para Carvalhinho, provavelmente, seja o seu bigode, “à la Sarney”.

Felizes aqueles que lá estiveram, que, com certeza, não esquecerão com facilidade esse momento ímpar. Apesar da estatura do nosso herói, foi, sem dúvida nenhuma, o ponto alto daquele sábado.

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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO:
Esta crônica eu escrevi no início deste ano. Ela narra, com doses de irreverência, um momento acontecido em uma de nossas “peladas” de final de semana, onde o principal objetivo é a prática de esporte e não propriamente a competição. O personagem escolhido, o Carvalhinho, é um dos recentes integrantes e um dos mais queridos da chamada turma do Lupy – http://lupy-futebolclube.blogspot.com.
A foto acima é de 2005 e nela constam, além de mim (o do meio, agachado), alguns dos integrantes desse
grupo, que se encontra todo sábado desde 1989, portanto, há quase 22 anos. Essa inclusão no blog é uma homenagem a essa turma maravilhosa, da qual tenho orgulho de fazer parte desde o início.

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