Afaste de mim este ‘Cale-se’
‘Constrangedor…’ Esta foi a resposta de um dos meus contatos,
com apelo para que eu não mais envie ‘mails’ de caráter político, pois este
assunto, para ele, é constrangedor… Outro contato anunciou-me que ‘os
cães ladram e a caravana passa’, querendo jogar por terra nosso levante de voz.
Desculpe aí minha gente se sou alguém que não se conforma com o
cenário que deparo diariamente e penso que todos devam ter acesso a pão,
educação, saúde e prazer e que isso não se restrinja à minoria.
Fico a pensar na insensibilidade de alguns face às injustiças,
embora demonstrem compaixão ao fitar cenas como aquela famosa do urubu próximo
a um bebê raquítico, fotografada em país distante. As lágrimas de crocodilo
devem escorrer sim pela face, porém estas mesmas pessoas, ao saírem de suas
confortáveis poltronas e uma simples ida ao shopping, deixam para trás algo que
a incomodou há pouco.
A zona de conforto do indivíduo é um valado, pois enquanto
qualquer perda ou prejuízo não chega diretamente até ele, está tudo bem e,
qualquer reflexão sobre a realidade chega a ser constrangedora.
Ah, pessoas! Portam-se no formato ordenado pelo sistema
governista e pela classe dominante que, através da mídia e imprensa esculpem na
classe média o molde perfeito para propagar o que é de interesse da camada que
está no topo. Achávamos que só a grande massa era manobrada…
A consolidação da classe média deu-se nos anos dourados com o
governo JK, durante a revolução cubana que, para evitar o mesmo por aqui,
passou a gerenciar as classes sociais e, neutralizando seus anseios, passou a
promover o ego de uma camada da população que estava ávida por diferenciar-se
dos pobres, fomentando assim, aquisição de bens de consumo, mas suscitando o
distanciamento em suas relações humanas.
Pensamentos que insurgem: “Nós, Classe Média, e eles, o povo, os
que não sabem votar, os insatisfeitos, os ignorantes…”; “Nós, bossa nova, eles,
do samba…”; “Nós, temos automóvel e eles andam a pé ou de ônibus…”. Bem ao
estilo terceiro mundo.
Até hoje lembramos quão eram de boa qualidade as escolas
públicas dessa época e por uma razão simples eram boas: os filhos dos ricos lá
estudavam, onde ali era socializada a educação entre a classe abastada, a
classe média e os pobres. E, por conta disso, muitos tiveram boa formação, e
mesmo assim hoje empinam o nariz e dizem: “minha família não era rica (como
pobres eles não gostam de ser classificados), mas eu me fiz por mim mesmo…” e
nisto veem justificativa para menosprezar os que hoje ficam estagnados, sem
perspectivas.
Conseguiram bom nível cultural, colecionando diplomas,
graduações e domínio de outras línguas. Pois bem, gostam de ganhar notoriedade,
mas para quê tanto conhecimento acadêmico se este jaz dentro de si? Utilizados
o são para desdenhar, segregar e tentar desmobilizar os que trabalham
desinteresseiramente por uma causa, pensando no bem do próximo e, por
conseguinte, do coletivo.
Oxalá que, em vez do constrangimento, a sensibilidade fosse
maior para motivar bons propósitos, solidariedade, voluntarismo, extirpando
atitudes que visam apenas às próprias conveniências.
Portanto, continuarei a criticar sim as ações de interesses
megalomaníacos de um neoliberalismo que vê prioridade no vislumbre
exibicionista em detrimento de áreas prioritárias como a Educação, a Saúde e
outras.
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AUTORA: Daisy Ferraz - bancária aposentada:
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COMENTÁRIO - Paulo Cesar Paschoalini:
Agradeço à minha amiga Daisy por ter autorizado a publicação de seu texto. Tive o privilégio de trabalhar com ela durante muitos anos no Banco do Brasil, agência Piracicaba-SP. Ela é integrante do Movimento 'Reaja Piracicaba', que tem por objetivo impedir o aumento abusivo de 66% na subvenção dos vereadores de Piracicaba, a partir deste ano, além atuar ativamente na fiscalização da conduta da classe política local. Para maiores informações, acesse: www.facebook.com/reajapiracicaba.
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