sábado, 25 de abril de 2015

CINEMA:

O curioso caso de Banjamin Button

1 - INTRODUÇÃO:
Produção norte-americana lançada em 2008, baseada na no conto homônimo de F. Scott Ftizgerald, trata-se de um drama escrito por Etich Roth e dirigido por David Fincher. No elenco, nomes como Cate Blanchett e Brad Pitt, sendo este último, inclusive, indicado ao Oscar como “Melhor ator”, entre as treze indicações que recebeu. Apesar de ter sido um dos filmes mais indicados a esse prêmio em todos os tempos, acabou por conquistar apenas três e em categorias mais voltadas ao quesito visual.
Conta a história de Benjamin, um homem que nasce em 1918 com aparência e características de envelhecimento e, pelo aspecto incomum para um recém-nascido, é abandonado pelo pai após a morte da mãe, logo depois do parto.
Ele, então, é encontrado por Queenie, uma negra que trabalha em um Lar para idosos, que passa a criar o menino, julgando que ele teria pouco tempo de vida. Por sua aparência de velho, convive em igual condição com os demais moradores do local, apesar de sua mente ser como a de um garoto qualquer, inseguro e curioso sobre a vida.
Ainda na infância, conhece a menina Daisy, que seria seu grande amor. A vida de Benjamin, no entanto, tem uma característica curiosa. Ao invés de manter ou adquirir novas rugas, ele vai rejuvenescendo em sua aparência, enquanto todos a sua volta vão envelhecendo, o que torna o filme intrigante e reflexivo ao telespectador.

2.1 - AGOSTINHO DE HIPONA:
O tempo muitas vezes foi objeto de reflexão na história da Filosofia. Do mesmo modo, a literatura também se serviu de conceitos temporais como pano de fundo de narrativas, na maioria no campo da ficção, como é o caso de Benjamin Button.
A ideia sobre o conto surgiu depois que F. Scott Fitzgerald leu a seguinte frase de Mark Twain: “A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”. Essa subversão na cronologia do tempo nos remete ao pensamento de Agostinho de Hiopona.
Santo Agostinho dizia que o tempo é essencialmente psicológico e está no espírito dos homens. Podia-se dizer que há três tempos, mas não necessariamente passado, presente e futuro. Para ele, seria mais certo dizer que os três tempos seriam o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro, porque essas três espécies só existem em nosso espírito, não sendo possível vê-los em outra parte.
Sendo assim, o passado não existe, pois é uma lembrança; o presente também não existe, uma vez que é uma percepção ou intuição e o futuro não existe, já que nunca aconteceu e, portanto, não passa de uma expectativa.
             
2.2 - KANT E HEIDEGGER:
Com relação ao tempo, outro filósofo que merece ser mencionado é o alemão Immanuel Kant, para quem o tempo é uma intuição a priori. Tempo, assim como o espaço, é uma condição de possibilidade da experiência, não sendo, portanto, uma realidade, já que não é visível, nem tangível e tampouco conteúdo de experiência. E puramente intuitivo. 
Para esse pensador, o tempo é uma condição da constituição humana, uma vez que faz parte de sua estrutura psicológica, além de condicionar nossas percepções de mundo e contribuir na aquisição de conhecimentos. Trata-se de uma intuição a priori, ou seja, antes da experiência, e que a condiciona ou a possibilita que ocorra.
Dessa forma, a capacidade de intuição em conjunto com a capacidade de pensar (ou, entendimento), é responsável pela organização das informações dos sentidos e permite por meio da reflexão o surgimento do conhecimento humano.
Como pudemos ver, são duas concepções diferentes acerca do tempo. Poderíamos, a partir desse ponto, principiar nosso questionamento ao depararmos com o começo da vida do personagem principal do filme, nos questionar inicialmente a respeito de nós mesmos, ou seja, porque nossa natureza é nascer criança e morrer velho?
Diante do proposto no filme em questão, podemos, ainda, mencionar Martin Heidegger, que tratou de algo muito visível no personagem, ao longo do desenrolar de sua história: a angústia. Segundo esse outro pensador alemão, angústia é uma insegurança que sentimos da nossa própria existência perante o mundo, onde nos vemos sozinhos, isolados de tudo, uma solidão, inclusive, perante a nossa condição humana. Devido à sua característica pessoal, Benjamin viveu a sua angústia particular diante de um mundo de possibilidades, não tão diferente dos demais, onde o futuro não oferece nenhuma forma de garantia.
Assim, a constatação de nossa natureza humana tem como ponto de vista o aspecto antropológico. Não importa se o tempo é uma ilusão, algo psicológico, ou, ainda, se é uma intuição que age no sentido de contribuir para a aquisição de conhecimento.
De qualquer forma, independente do tempo agir no sentido de nos envelhecer ou de nos remoçar, em ambos os casos necessitamos nos submeter a uma experiência de vida, dentro de um espaço de tempo qualquer, com o objetivo de adquirir conhecimento e consciência para nossa evolução. Todavia, o certo é a evidencia da nossa fragilidade e da nossa condição efêmera.

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A vida é realmente algo curioso e nossa relação com o tempo é quase sempre de insatisfação. Quando somos crianças, torcemos para que o tempo passe logo, para sermos rapidamente adultos. Quando avançamos um pouco mais na idade adulta, queremos colocar um freio no tempo. Ou, ainda, ao nos depararmos próximos à velhice, gostaríamos que nossa idade retrocedesse gradualmente, a ponto de nos tornarmos novamente jovens, conforme sugere o autor F. Scott Fitzgerald.
Ao assistir esse filme que narra a história de Benjamin Button, percebemos que esse processo de inversão da idade, partindo da velhice, quer seja para somente uma pessoa ou para toda a humanidade, só inverteria a cronologia e, conseqüentemente, nossos aspectos e características físicas, não nos livrando, entretanto, de situações que pudesse impedir nosso inevitável destino.
Fica ao espectador o convite para uma reflexão a respeito das etapas da nossa vida. Muito embora a maioria das pessoas se queixe do natural processo de envelhecimento, se ela caminhasse no sentido oposto, não estaríamos imunes ao mesmo fim. Assim, apesar de que ela não seja da forma como gostaríamos que fosse, o ideal é vivermos intensamente da melhor maneira como realmente ela nos apresenta.

4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Site Wikipédia – A Enciclopédia Livre, acesso em 05 abr 2014.
Site FAJE-Faculdade Jesuíta, acesso em 06 abr 2014.
Site Revistas PUCSP, acesso em 06 abr 2014.

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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO:
Trabalho do componente curricular de AACC - Atividade Acadêmica Cultural e Científica, apresentado durante a graduação em Licenciatura em Filosofia, pela Faculdade "Claretiano - Rede de Educação", Polo de Rio Claro-SP.
A publicação no blog é uma sugestão para quem ainda não viu o filme e também um convite para uma análise sob o ponto de vista filosófico, para quem já assistiu essa produção de grande sensibilidade, e, quem sabe, uma oportunidade de revê-lo com outros olhos, mais críticos e mais reflexivos.
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