E comum ouvirmos falar das vantagens de se colocar o filho numa
boa escola, de dar a ele certo nível de estudo, amplamente reforçadas pela
sabedoria popular de que “tudo pode ser tirado de alguém, menos o se adquire de
conhecimento”.
Dessa forma, fica comum de se encontrar todas as facilidades nos
dias de hoje para ingresso de estudantes, em especial no segmento
universitário. Sob a forma de instituições de ensino, corporações empresariais
criam condições para o acesso a cursos superiores, tornando a questão de ensino
uma questão meramente mercadológica.
Mas seria a instituição de ensino a única responsável por esse
panorama desfavorável, ou haveria também outros componentes que contribuiriam
para esse diagnóstico negativo?
Esse trabalho tem como finalidade fazer uma análise sobre o
artigo do Dr. Renato Nunes Bittencourt, que trata da situação educacional no
Brasil, matéria de capa da revista “Filosofia – Ciência & vida”, de janeiro
de 2013.
2.1 - ENSINO NO CAPITALISMO:
Vivemos num sistema capitalista e o objetivo principal é o de
gerar lucros. Grandes empresas têm se aventurado nesse promissor filão
comercial, se enveredando pelo segmento de ensino. Dessa forma, esse “comércio
lucrativo” passa ser responsável pela busca desenfreada de diplomas, além de
outros títulos, desde que se possa pagar pela obtenção deles. “O dinheiro é a
medida de todas as coisas, e o lucro, seu objetivo principal”, sintetiza o
filósofo e educador Paulo Freire.
A estrutura presente no ensino básico tem contribuído
sobremaneira para o desenvolvimento de analfabetos funcionais, que são aqueles
que têm dificuldade em se expressar por escrito suas ideias de maneira clara e
com mínimo de conteúdo, ou deficiência na interpretação de textos.
Munido dessa bagagem escassa, o candidato ao ingressar em curso
superior encontra todas as facilidades e, uma vez estudante universitário, tem
“a seu favor” o objetivo da instituição para que haja índice mínimo de
reprovação. Assim, aqueles que antes eram chamados de “alunos”, passam a ter o
status de “clientes”. As autoridades públicas encarregadas de gerir os recursos
destinados à educação, assumem papéis de gerentes na relação com seus
consumidores, prejudicando o amadurecimento do estudante.
Com o tratamento de “estudante-cliente”, qualquer dificuldade de
aprendizado e, principalmente, de aprovação, pode levá-lo nesse “sistema
comercialista” a optar por outra instituição universitária para atingir seu
objetivo, ficando evidente que a falta de qualidade deverá ser a tônica dessa sua
trajetória acadêmica.
Na relação aluno professor, nos casos de reprovação ou falta de
compreensão de conteúdo, a culpa normalmente recai sobre o docente, que acaba
se colocando numa posição defensiva, sendo comuns os casos de assédio moral,
quando passam a ser vítimas de injúrias, até mesmo de agressões, ou outras
atitudes de desrespeito, que culminam na perda de autoridade. Com a inversão de
papéis na importância hierárquica, ficam os professores sujeitos aos caprichos
dos alunos e, com a anuência dos pais, evidencia-se a lógica do “pagou-passou”.
2.2 - O PAPEL DA
FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO:
Podemos observar em todos os segmentos sociais a degradação dos
valores morais, certamente decorrente da conturbada crise da estrutura familiar
de hoje em dia. A consciência cidadã não tem sido tratada adequadamente no seio
familiar, onde deveriam ser disseminados os conceitos de respeito e
responsabilidade. Os pais, por sua vez, são negligentes ao não acompanharem o
desenvolvimento dos filhos e mostram ter perdido o controle sobre eles, que se
deixam levar por padrões ditados pela mídia.
Devido às imposições capitalistas, as obrigações profissionais
fazem com que muitos pais se mostrem ausentes na educação dos filhos e acabam
transferindo às instituições de ensino toda a responsabilidade que deveria ser
iniciada em casa, desde os primeiros anos de vida. A desmoralização da família,
que deveria ser a base para as demais relações sociais, acaba repercutindo no
meio educacional formal.
Os estudantes passam a considerar o espaço educacional como
ponto de encontro e local de lazer, colocando num plano inferior o estudo, que
deveria ser o objetivo principal, não se realizando, portanto,
existencialmente. Dessa maneira, a juventude alienada tem origem na
decomposição da base da vida familiar, devido à passividade e falta de atitude
dos pais, passando pela estrutura e qualidade de ensino deficiente, que resulta
na visível desmoralização social que estamos presenciando.
3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Sem dúvida nenhuma, estamos vivendo um momento delicado na
relação humana. O conhecimento, que sempre foi objeto do pensamento filosófico,
desde a antiguidade até os nossos dias, tem sido relegado à simples mercadoria
de consumo e fonte de receitas para entidades com finalidades de ensino meramente
comerciais.
Podemos notar que a estrutura capitalista é a principal
responsável por essa situação preocupante. Pela sua dinâmica voltada
exclusivamente para o binômio produção e consumo, além de interferir de maneira
negativa para a qualidade de vida familiar, que repercute diretamente nas salas
de aula, se propõe a participar da educação formal, movida por finalidades
exclusivamente voltadas ao lucro.
Do ponto de vista do desenvolvimento humano, contribui para o
aumento de alienados, focando muito mais no aumento do mercado de consumidores.
O artigo menciona que uma possível solução para esse imbróglio
educacional flagrantemente comercial seria a criação de cooperativas
educacionais e a consequente valorização do professor. Porém não devemos
esquecer que o surgimento e implementação da política corporativista estão
vinculados também ao interesse, responsabilidade e participação dos pais dos
alunos, que atualmente não encontram tempo e condições para uma empreitada
semelhante.
A questão do ensino requer, mais do quer nunca, amplos e
exaustivos debates reflexivos. Destaque para a frase do artigo, que, não por
acaso, utilizada também como fechamento da análise do texto publicado: “Não podemos deixar que a flama do saber se converta na
lama da ignorância”.
4 - REFERÊNCIA:
BITTENCOURT, Renato Nunes, Conhecimento à venda. Filosofia
Ciência & Vida, São Paulo, ano VII, n. 78, p. 14-22, jan. 2013.
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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO: Trabalho apresentado como componente
curricular de AACC - Atividade Acadêmica Cultural e Científica, durante a
graduação em Licenciatura em Filosofia, pela Faculdade "Claretiano - Rede
de Educação", Polo de Rio Claro-SP.
Em razão de hoje ser comemorado o “Dia do
Professor”, eu achei por bem postar meu trabalho sobre o artigo publicado na
Revista “Filosofia Ciência & Vida”, em que autor mostra a sua maneira
particular de ver o momento em que vive o Sistema Educacional no Brasil, o que
nos leva obrigatoriamente a uma reflexão a respeito. A imagem escolhida foi
utilizada como ilustração do referido texto na época e consta do Portal da
mencionada revista.
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