terça-feira, 21 de março de 2017

MINHA CRÔNICA:

Invasão estrangeira

Muito tem se falado sobre o uso exagerado de termos em inglês nos dias de hoje. Defensores ferrenhos da Língua portuguesa têm se manifestado contrários ao que podemos chamar de uma sutil invasão estrangeira, que tem americanizado até mesmo a nossa cultura popular, haja visto a onda country que tem influenciado a música, vestuário e costumes dos jovens, em boa parte do país.

Mas não é só o jovem que tem sofrido essa influência. Se pararmos para observar, muitas palavras do idioma inglês estão fazendo parte do nosso dia-a-dia e, sem que percebamos, já foram incorporadas ao nosso vocabulário quase que naturalmente. Se o leitor ainda não se deu conta desse anglicismo, basta acompanhar a narrativa do que pode ser a rotina de muita gente:

Você trabalha a semana inteira em frente de um computador e vive às voltas com software, hardware, e CD-ROM, tem que dar um tratamento VIP aos clientes e só para quando vai almoçar num self-service. O pouco de lazer que tem é o happy hour para tomar um drink com os amigos. Não vê a hora de chegar o fim de semana para ir a um flash night ou a algum show que tiver na cidade. Mas, antes você pega a sua pick-up, com insulfilm e air bag, e vai ao Shopping center passear com a família. Durante o passeio, você dá uma olhada no show room de várias lojas que têm outdoor espalhados pela cidade. Aí sua esposa resolve ir ao hipermercado comprar leite light e refrigerante diet para casa, shampoo para ela, CD para o filho, short e top de cor pink para a menina e uma calça jeans para você.

Para esses gastos o seus saldo bancário é o suficiente. No entanto, a mulher vê um freezer que ela gostaria de ter há algum tempo. Além do mais, gostaria que você levasse uma TV nova, stereo, com close caption ou picture and picture. Para você esses recursos não importam pois só usa o on e off da televisão. O menino quer um video game de presente e a garota um aparelho de CD que possua também um tape deck que seja auto reverse. Sua esposa quer levar um blazer que você vai vestir num casamento onde a maioria dos convidados estará usando black tie. Então, você convence a família que não dá para comprar tudo aquilo nem mesmo usando o seu CARD que, apesar de estar escrito international, o limite dá para comprar muito pouco dos produtos vendidos no Brasil.

Depois de algum tempo caminhando, é hora de parar num fast food, para comer alguma coisa. Seus filhos pedem hot dog e milk shake; sua esposa, um X-salada (na verdade cheese salada) e, para beber, um cocktail de frutas; você quer um X-egg bacon acompanhado de uma cerveja long neck. Na hora de pagar a conta, você utiliza alguns tickets que a empresa lhe paga junto com o salário mensal.

Toda essa vida agitada leva você a fazer um check-up periódico, para ver se não está a beira de um stress. Felizmente, quase sempre tudo OK.

Como é fácil notar, os termos em língua inglesa estão por toda parte. Com certeza, a maioria dos leitores conseguirá entender quase que a totalidade do texto, mesmo aqueles que nunca chegaram a ter aulas de inglês. A tendência natural é que, com a globalização, o uso desses termos estrangeiros aumentem cada vez mais. Segundo dados divulgados pela TV, cerca de 380 milhões de pessoas falam o inglês como língua nativa e, em todo o mundo, mais de 1 bilhão estão em processo de aprendizagem desse idioma derivado do anglo-saxão, devido ao seu uso universal.

Talvez não seja o caso de discutir se a introdução desses termos é prejudicial ou não à Língua portuguesa. A realidade é que a necessidade nos impulsiona na direção de novos conhecimentos. Segundo uma frase ouvida já há algum tempo, "o analfabeto do século XXI será aquele que não tiver curso de inglês e informática". Pois bem, o terceiro milênio já começou e temos que ter a consciência de que tudo caminha continuamente e aquele que ficar parado apenas observando tudo isso acontecer, sem acompanhar essas mudanças, será esmagado pelo rolo compressor da modernidade, que avança de maneira impetuosa.

O texto não tem a intenção de fazer qualquer propaganda de escolas de inglês ou informática. É apenas uma sugestão para que, de alguma forma, as pessoas busquem atualizar-se, já que isso não é uma questão de opção, mas sim de necessidade, ou até mesmo de sobrevivência.
The End.

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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO: Texto publicado no "Jornal de Piracicaba", quando atuei como colaborador nos anos de 2001, 2002 (época da publicação) e 2005. Agradecimento ao jornalista Joacir Cury, Editor do "JP" naquele período.
Podemos verificar que muitos termos em inglês, incorporados ao nosso vocabulário, já caíram em desuso, devido a velocidade de incorporação de novas palavras, oriundas de novas tecnologias.
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