Faz de conta
Outro dia mesmo estava me divertindo,
assim meio descuidado, meio distraído,
e pelas brincadeiras de infância atraído.
Vieram outros dias, outras noites,
e, então, o tempo, sorrateiramente,
foi levando para longe de mim, dia após dia,
o pião que fazia girar as minhas fantasias;
as bolinhas de sabão, que eram meu alento,
foram desmanchando-se ao sopro do vento.
O faz de conta, os pés descalços, as ‘partidas’,
o ‘bate-bola’ nos campinhos de terra batida;
as alegres brincadeiras de ‘esconde-esconde’,
me escondiam do mundo adulto, não sei onde.
Enfim, até me dar conta de que chegou o dia
que esconder já não mais conseguia.
Eu não gostei de ter crescido, realmente.
Vez por outra eu me perco à minha procura.
Eu queria ter de novo aquela estatura,
aquela inocência, aquela candura.
Não queira esse mundo de loucura,
onde a verdade se vai e a mentira perdura.
Eu queria ser um menino eternamente.
Na verdade sou criança, apesar da aparência,
e luto para não ser adulto, com veemência,
para não adulterar de vez a minha essência.
O pião perdeu-se num mundo que continua a girar,
as bolinhas de sabão desfizeram-se de vez pelo ar
e nas ruas asfaltadas meus pés calçados vêm pisar.
Mas eu sigo brincando de esconde-esconde, contudo,
com o tempo que insiste em transformar tudo;
faz de crianças felizes, adultos sisudos.
Meu corpo de adulto pelo tempo foi esculpido,
embora me sinta criança, num corpo crescido,
com roupas de adultos, mas espírito despido.
Quanto mais ele muda, mais me contraponho,
pois muda um reino encantado de sonhos,
em um mundo ainda mais infeliz e tristonho.
Cresci e não gostei; isso me desaponta.
Por isso mantenho esse desejo oculto,
insistindo em brincar de faz de conta,
‘fazendo de conta’ que sou adulto.
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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIOS:
- O termo “faz de conta” tem como significado no Brasil algo semelhante a “imaginar, fantasiar, fingir, fazer acreditar, passar-se por, causar uma impressão”.
- Texto selecionado em concursos de âmbito nacional, além de apresentado em eventos literários. É parte integrante do original do livro de poesias “Mar adentro, mundo afora...”, aguardando parceria para patrocinar a publicação.
PREMIAÇÃO EM CONCURSOS LITERÁRIOS:
- Menção Honrosa no “X Concurso Nacional de Poesias-APLA”, da
Academia Pontagrossense de Letras e Artes, de Ponta Grossa-PR (versão
reduzida).
- 7ª colocada no “XXXIX Festival de Música e Poesia – FEMUP
2004”, da Fundação Cultural de Paranavaí-PR, declamado por Bruna Boaretto,
em 20/11/2004, na noite de premiação.
- Texto apresentado nos dias 15, 16 e 17/09/2006, no Teatro Municipal “Dr.
Losso Neto”, em Piracicaba, durante o show "Simplesmente", do grupo
musical "Falando da Vida", interpretado por Nelma Nunes, atriz que atua em Piracicaba e região.
- Poesia selecionada para compor o encarte comemorativo aos 25
anos do grupo musical “Falando da Vida”, da cidade de Piracicaba, no
ano de 2010.
- Selecionados no “XIII Prêmio Escriba de Poesia”, da cidade de Piracicaba-SP,
no ano de 2015, foi uma das 31 escolhidas dentre mais de 1.300 textos
inscritos, enviados por 684 candidatos, sendo 18 do exterior e os demais de
todos os cantos do Brasil.
- Registro nº: 640.346, em 14/04/2014, no EDA / FBN.
Que lindo poeta.. Ahh temos que manter sempre viva essa criança dentro de nós relambrar tudo que vivemos na Infância eh maravilhoso. Seria bom que houvesse um portal onde podessimos voltar a infância sempre que quisessimos fugir desse mundo louco dos adultos que vivemos hoje!!
ResponderExcluirSim, concordo plenamente com você. Talvez seja essa "criança interior" a responsável por nos salvar dessa "tal realidade" que aqui está. Muito obrigado pela sua gentileza em comentar as publicações. Abraço!
ExcluirGratidão a ti por compartilhar sempre!
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