segunda-feira, 19 de julho de 2021

MINHA CRÔNICA:

Máscaras .



_____Quem de nós não se lembra do tempo em que éramos criança? Das inocentes brincadeiras nas calçadas, do pular de cordas das meninas, do bate-bola dos meninos e do esconde-esconde que unia ambos os gêneros.

_____Para os meninos, havia ainda a fantasia de imaginar-se sendo super-heróis, utilizando máscaras de mais variados tamanhos, modelos e personagens a escolha. A maioria desses adereços faciais, quase sempre sobre os olhos, fazia com que sentissem com poderes suficientes para alçar voo às suas ilusões.

_____No caso das meninas isso era menos comum, muito embora recorressem a outros expedientes, com a chegada da adolescência. A força que propunham continha mais sutileza, vinda através da maquiagem. Assim, ao invés de ocultarem a “identidade secreta”, como os garotos, elas realçavam traços sobre o rosto a fim de corrigir eventuais imperfeições.

_____Dessa maneira, todos nós crescemos fazendo do rosto o nosso “cartão de visitas”, além de ensaiar expressões, esconder sentimentos e dissimular intenções, sustentando metafóricos disfarces como estratégias para finalidades bem definidas. Palavras cuidadosamente pensadas, sorrisos ensaiados e gestos aceitos como adequados sempre se encarregaram de mascarar a nossa personalidade. Foram úteis e ainda nos servem como persona no teatro da vida.

_____Se nossa fisionomia sempre foi uma grande ferramenta e aliada dos interesses do corpo, o mesmo não pode dizer dos olhos, também conhecidos como “janelas da alma”. Vez por outra os olhares costumam contradizer os lábios, podendo até mesmo um beijo ser elemento crucial para se caracterizar, inclusive, uma traição.

_____Numa época de tanta superficialidade pessoal e de flagrantes interesses comerciais, justamente quando o nosso exterior mais se submete às imposições visuais, subjugando-nos às ditaduras da contemporaneidade, eis que um inimigo invisível surge para desestabilizar o nosso interior.

_____Com a decretação da quarentena, abraços e beijos, tão comuns no mundo atual e vistos como ingredientes do jogo da sedução, podendo culminar na concepção de um novo ser, passaram a ser consideradas atitudes de ameaça à vida humana. Esses gestos de carinho, tão banais até pouco tempo, hoje tornaram-se “proibidos”. Em alguns casos, até mesmo respirar passou a inspirar certos cuidados.

_____Num momento de explosão de percepções visuais, um simples vírus, algo invisível e tão imperceptível, tratou de ditar novas normas de comportamento, condenando o ser humano, até então chamado “ser social”, a viver em isolamento, distanciando-se do “outro”, espelho de suas ações e, ao mesmo tempo, um concorrente da vida moderna.

_____Máscaras deixaram de ser figuras de linguagem para tornarem-se itens obrigatórios e imprescindíveis. As bocas, agora silenciadas pelo afastamento imposto, estão cobertas pela dúvida, e as feições reduziram-se a olhares reticentes e enigmáticos, com nuances de inquietação e beirando o desespero.

_____Numa sociedade em que as pessoas sempre usaram e abusaram de subterfúgios como camuflagem da realidade, tirando proveito daquilo que não se revela, todos desejam avidamente a chegada do dia em que as máscaras caiam, de uma vez por todas!


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AUTORPaulo Cesar Paschoalini
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 < CURRÍCULO LITERÁRIO E PREMIAÇÕES > 
COMENTÁRIO: O texto foi publicado no blog da "Revista Vicejar" em 16.07.2021, onde o escritor possui vários textos de sua autoria, atuando como Colaborador do blog e do site. Para ler mais acesse:

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2 comentários:

  1. Duvido que algum dia se deixe de usar máscaras. As pessoas. mesmo vacinadas, continuam a fugir umas das outras como gatos fogem dos cães, lol.
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    Cumprimentos
    Cuide-se
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  2. Eles dizem que em Agosto talvez, mas não acredito. Está muito mau para deixar de as usar. Um belo e interessante texto!:)
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    Procuro a paz que anda perdida
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    Beijo, e um excelente dia...

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