Translate

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

MINHA CRÔNICA:

A sorte mora num fim de mundo: 



_____Quantos de nós fazemos lá a nossa “fezinha”, nas mais diversas loterias, torcendo para que a sorte venha bater à nossa porta? Entra semana, sai semana, e nada dela encontrar o nosso endereço, não é verdade? Quem de nós nunca teve a curiosidade de saber onde ela reside? Aí pensei comigo mesmo: bem, já que ela não vem até mim, vou sair ao encontro dela! Mas, por onde começar a procurar? De fato, onde será que mora a tal da sorte?

_____A dúvida persistiu por muito tempo, até que, acompanhando o resultado das loterias da Caixa Econômica Federal, eu pude encontrar pelo menos uma pista sobre ela. Notem que toda vez que sai o prêmio de alguma loteria acumulada para um único apostador, especialmente a Mega-Sena, é comum ouvir de qualquer cidadão: “Puxa vida; saiu para alguém que mora lá num fim de mundo!”.

_____Então concluí: a sorte mora num fim de mundo! Se bem que o conceito de fim de mundo é muito relativo. Para quem mora no estado de São Paulo, como é o meu caso, qualquer pequena cidade dos estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste é o que popularmente se convencionou chamar de cafundó. Já para quem vive nessas regiões, nós do Sul ou Sudeste é que fazemos parte do fim de mundo.

_____Não me refiro às capitais ou cidades consideradas de grande porte. Quero dizer vilarejos que muitas vezes nem constam do mapa. São cidadezinhas sem qualquer infraestrutura que, como costumam dizer, estão por conta do destino, dependendo da piedade divina ou, ainda, entregues à própria sorte. E não é que a sorte tem cuidado bem de alguma delas! Basta acumular uma considerável soma em dinheiro em qualquer das loterias existentes, que a “bolada” invariavelmente acaba saindo para um único apostador de um lugarejo qualquer.

_____Isso mesmo, a sorte costuma subverter qualquer probabilidade matemática, indo cair nas mãos de um indivíduo que muitas vezes fez um ou, no máximo, dois joguinhos. Com tanta gente vivendo nos estados mais populosos do país e, consequentemente, tendo o maior número de apostas, era de se supor que, estatisticamente, seriam contemplados mais apostadores das regiões Sul e Sudeste. Contudo, poucas vezes um sujeito dessas regiões leva o prêmio. Não que apostadores desses estados não ganhem na loteria, mas, quando acumula, ironicamente sai para uma só pessoa de um lugar que nunca, ou pouco, se ouviu falar.

_____Às vezes chego até a pensar que a tal da sorte tem exercido um papel quase que social. Em razão da incompetência das autoridades, parece ter se inspirado em Nêmesis (deusa da justiça equitativa, na mitologia grega), chamando para si a responsabilidade de resolver o problema de distribuição de renda. Dessa forma, ela tem voltado a sua atenção para os menos favorecidos, independente de qualquer prognóstico.

_____É bom ressaltar que em 2010, no concurso 1.155 da Mega-Sena, um único cartão teria sido premiado com pouco mais de R$ 52 milhões, em Novo Hamburgo, considerada uma cidade de grande porte do Rio Grande do Sul (na época, 238 mil habitantes). Porém, o dono da lotérica “Esquina da Sorte” alega que uma funcionária se esqueceu de fazer o jogo. Para cerca de 40 apostadores que tinham participado de um “bolão”, a sorte deu as caras, mas acenou e virou a “esquina”, deixando todos pobres de esperança, inclusive.

_____A despeito disso tudo, muitos chegam a colocar em dúvida os sorteios realizados pela CEF. Entretanto, eu não sou o tipo de sujeito que engrossa essa lista. Afinal, acontecem com presença de público e suponho que sejam fiscalizados e devidamente auditados. Tenho aqui comigo que os sorteios dos concursos são 99% confiáveis. O tal do um por cento fica por conta de alguns desvios verificados ao longo dos anos. Para quem não se lembra, ou desconhece, vale recordar, por exemplo, o caso do já falecido ex-Deputado Federal João Alves, que ganhou na loteria cerca de 200 vezes. Vai ter sorte assim lá no cafundó!

_____Ao ler este texto, o leitor poderia perguntar se por acaso esse cronista nunca vai a uma Casa Lotérica fazer sua “fezinha” de vez em quando. Mas claro que faço! Uma vez ou outra eu arrisco, sim!

_____Aí, então, quando eu fico na fila esperando chegar a vez da funcionária processar a aposta, sonho com uma “bolada”, me encho de esperança e ilusão pensando: talvez, de repente, a sorte se canse um pouco daquela vida pacata de cidadezinha e resolva vir para um centro mais populoso. Podia ser aqui por Piracicaba, por exemplo. Sendo assim, quem sabe a gente não se encontra um dia, hein?!

 

OBSERVAÇÃO: Recebeu a 3ª Menção Honrosa no “XXXVIII Concurso Literário Felippe D'Oliveira - Edição 2015”, da cidade Santa Maria-RS, sendo um dos selecionados na modalidade “Crônica”, categoria Nacional. Foram inscritos 708 textos nesse certame (176 crônicas), que teve candidatos de 15 estados do Brasil, além de Japão, Itália e Inglaterra.

LINK: http://www.santamaria.rs.gov.br/noticias/10936-mais-de-700-trabalhos-inscritos-conheca-os-vencedores-do-concurso-literario-felippe-drsquooliveira


------------------------------------------------

AUTORPaulo Cesar Paschoalini
------------------------------------------------
 < CURRÍCULO LITERÁRIO E PREMIAÇÕES > 
COMENTÁRIO: O texto foi publicado no blog da "Revista Vicejar" em 30.12.2022, onde o escritor possui vários textos de sua autoria, atuando como Colaborador do blog e do site. Para ler mais acesse:
BLOG DA REVISTA VICEJAR: http://revistavicejar.blogspot.com/
______________________________________  

sábado, 3 de dezembro de 2022

MINHA POESIA:

VASTO OCEANO: 

Desprovido de qualquer material adequado, 
eu, poeta, lanço meu olhar sobre o mar, 
a fim de pescar na minha rede de sentimentos 
o encantamento espalhado pela imensidão, 
ou preciosidades escondidas nas profundezas. 

A uma certa distância, 
sinto o vento que sopra na praia 
e vejo ondas que juntam a areia; 
ouço ali o murmúrio do Criador. 
Inevitável não querer aproximar-me. 

Molho os pés na água salgada, 
para experimentar o sabor do infinito. 
Minha boca não esconde o contentamento; 
eu, simplesmente, rio... 
querendo descobrir-me vasto oceano!  

-------------------------------------------------
AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
(Protegido por Lei de Direitos Autorais, 9.610/98)
-------------------------------------------------
OBSERVAÇÃO: O texto é parte integrante do original "Mar adentro, mundo afora...", livro de poesias aguardando parceria/patrocínio para publicação. 
 < CURRÍCULO LITERÁRIO E PREMIAÇÕES > 

ACESSE TAMBÉM ATRAVÉS DOS LINKS: 
- INSTAGRAM: @pirafraseando ;
- INSTAGRAM, 3 IDIOMAS: @pc.paschoalini ; 
- TWITTER: @PaschoaliniPc ;
- PENSADOR UOL: pensador.uol/Paulo_cesar_paschoalini ;
- RECANTODAS LETRAS: recantodasletras/Pirafraseando . 

____________________________________ 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

MINHA POESIA:

PEDRAS DO CAMINHO: 

Que tu consigas 
perceber cores 
nas pedras do caminho, 
quando assim as vires... 

para que teu olhar, 
por onde fores, 
possa fazer da estrada 
vereda de arco-íris. 

-------------------------------------------------
AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
(Protegido por Lei de Direitos Autorais, 9.610/98)
-------------------------------------------------
ACESSE TAMBÉM ATRAVÉS DOS LINKS: 
- INSTAGRAM: @pirafraseando ;
- INSTAGRAM, 3 IDIOMAS: @pc.paschoalini ; 
- TWITTER: @PaschoaliniPc ;
- PENSADOR UOL: pensador.uol/Paulo_cesar_paschoalini ;
- RECANTODAS LETRAS: recantodasletras/Pirafraseando . 

____________________________________ 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

MINHA POESIA:

BOCA DA NOITE:  

  

A tarde se vai, num bocejo... 

A boca da noite se abre 

para mastigar as sombras, 

experimentar silêncios 

e engolir a madrugada. 


(FOTOGRAFIA: Marco Antonio Ayres - Agradeço ao fotógrafo pela gentileza de sugerir/permitir a publicação da imagem de sua autoria, acompanhada de meu poema)

-------------------------------------------------

TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
(Protegido por Lei de Direitos Autorais, 9.610/98)
-------------------------------------------------
 < CURRÍCULO LITERÁRIO E PREMIAÇÕES > 

ACESSE TAMBÉM ATRAVÉS DOS LINKS: 
- INSTAGRAM: @pirafraseando ;
- INSTAGRAM, 3 IDIOMAS: @pc.paschoalini ; 
- TWITTER: @PaschoaliniPc ;
- PENSADOR UOL: pensador.uol/Paulo_cesar_paschoalini ;
- RECANTODAS LETRAS: recantodasletras/Pirafraseando . 

____________________________________ 

MINHA CRÔNICA:


MÚSICA: 'Construção' 
(Composição: Chico Buarque de Holanda, 1971) 

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

--------------------------------------------------------

'Construção'... e reconstrução poética 

Esta música de Chico Buarque, do ano de 1971, é considerada por muitos críticos como uma de suas mais significativas composições, elaborada cuidadosamente com frases terminadas com palavras proparoxítonas. Descreve não somente a rotina de uma edificação comum às grandes cidades, mas como a sociedade está construída e as diferenças nela existentes.

A princípio, retrata a realidade da construção civil, observada de acordo com o ponto de vista humano, daqueles que se arriscam equilibrando em andaimes para poder executar a tarefa de por “tijolo por tijolo num desenho mágico”.

Além do mais, “comeu feijão com arroz... bebeu e soluçou”, por exemplo, dão a dimensão das condições e sentimentos que envolvem o operário, tratado “como se fosse máquina”. Enquanto procuram ganhar a vida executando essa tarefa tão necessária à sociedade, mas também tão arriscada, muitos acabam por morrer “na contramão atrapalhando o tráfego”.

Após finalizar a primeira parte com a morte do operário, a segunda parte é cantada com os versos começando de maneira semelhante, ainda terminado com proparoxítonas, mas no desfecho com palavras diferentes que foram mencionadas ao longo da letra. No entanto, quando cantada, ainda, pela terceira vez, cada verso apresenta no final uma forma desordenada, numa genial reconstrução poética, ganhando contornos de desconstrução, mostrando uma realidade caótica.

Dessa forma, a letra também adquire ares de demolição da vida humana, revelando dramaticamente como o indivíduo é usado e abusado, sendo despido de sua dignidade. Destaque para: “amou... como se fosse máquina”, “ergueu... paredes flácidas” e “e se acabou no chão feito um pacote bêbado”.

Para finalizar a composição, um arremate que expõe o lado desumano e realista. Apesar da vida desgraçada a que se submete, ainda se vê obrigado a agradecer a quem detém o poder econômico, pela oportunidade de lhe dar uma maneira de ganhar a vida, embora as condições de trabalho sejam mais apropriadas para que venha a perdê-la.

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir...
Por me deixar respirar, por me deixar existir...
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair...
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir...
Deus lhe pague!

------------------------------------------------
TEXTOPaulo Cesar Paschoalini
------------------------------------------------
 < CURRÍCULO LITERÁRIO E PREMIAÇÕES > 
COMENTÁRIO: O texto/música foi publicado no blog da "Revista Vicejar" em 13.11.2022, onde o escritor possui vários textos de sua autoria, atuando como Colaborador. Para ler mais acesse:
BLOG DA REVISTA VICEJAR: http://revistavicejar.blogspot.com/
LINK DO TEXTO:
______________________________________

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

MINHA POESIA:

METAMORFOSE: 

Caminha a lagarta, lentamente,
pela extensão de alguns galhos;
se alimenta de várias folhas
e mata a sede com o orvalho.

Um dia chega a mudança;
se encasula consigo, contida,
se reveste de folhas mortas
para iniciar uma nova vida.

Na escuridão de seu abrigo,
abandona a coloração pálida
e desabrocha suas cores vivas
na metamorfose em crisálida.

A natureza tece a roupagem,
que estampa sobre as floradas;
as borboletas, na paisagem,
mais parecem pétalas aladas. 

-------------------------------------------------
AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
(Protegido por Lei de Direitos Autorais, 9.610/98)
-------------------------------------------------
- COMENTÁRIO: 
- Menção Honrosa no “III Prêmio Manoel Cerqueira Leite de Literatura” e publicada na página 16 da antologia “Mágicas e tantos devaneios”, editada por Via Sette Editorial, da cidade de Itapetininga-SP.
- Publicada na página 72 do livro “Poesias da Primavera”, pela Casa do Livro Editora Rio-pretense, da cidade de São José do Rio Preto-SP. Foi um dos textos selecionados em concurso para integrar a coletânea.
- Publicada na página 16 da antologia “Mágicas e tantos devaneios”, editado por Via Sette Editorial, da cidade de Itapetininga-SP. Recebeu Menção Honrosa no “III Prêmio Manoel Cerqueira Leite de Literatura”. 
ACESSE TAMBÉM ATRAVÉS DOS LINKS: 
- INSTAGRAM: @pirafraseando ;
- INSTAGRAM, 3 IDIOMAS: @pc.paschoalini ; 
- TWITTER: @PaschoaliniPc ;
- PENSADOR UOL: pensador.uol/Paulo_cesar_paschoalini ;
- RECANTODAS LETRAS: recantodasletras/Pirafraseando . 

____________________________________