Não
sou adepto daquela emblemática frase de que “O Brasil é a pátria de chuteiras”.
Um país deve (ou deveria) ser muito mais do que isso. Uma nação somente cria
uma identidade que a represente, quando lança mão de algo que está presente em
seu senso de coletividade.
Considerando
assim, nada melhor do que metáforas envolvendo o futebol, com aspectos de um
esporte que, pelo apelo passional, revela, mais do que nunca, comportamentos e
situações que podem denunciar a maneira com que um povo se relaciona
socialmente.
Curioso
notar que, logo depois da surpreendente (?) eliminação para a Bélgica na Copa
de 2018, boa parte da imprensa, além de membros da Comissão Técnica, se
referiam a Neymar como sendo “um menino genial”, ou “um garoto que está
arrasado”. Isso somente reforça a tese daqueles que consideram que ele não está
suficientemente amadurecido.
Raras
foram as vezes em que foi tratado como realmente é; um atleta profissional de
26 anos, que recebe em torno de R$ 12 milhões por mês. Mesmo após 8 anos como
jogador de destaque, portanto, metade da carreira da maioria dos jogadores de
futebol, as palavras sempre foram medidas com o cuidado para não melindrar, ou
mesmo para não ferir “a galinha dos ovos de ouro”.
Sim,
é isso mesmo que grande parte da mídia tem se portado quando o assunto é
Neymar. Afinal, é graças a ele que as emissoras e outros meios de comunicação
preenchem (para não dizer “enchem”) as telas nos intervalos comerciais e as
páginas de jornais e revistas de circulação nacional e internacional.
Neymar
é colocado em uma redoma e todos os conflitos pessoais e o comportamento de
exacerbação de seu ego, também nos clubes por onde tem passado, é relegado a um
plano infinitamente inferior à projeção que se dá ao seu visual, em especial os
seus cabelos.
Não
é a toa que o “menino” ganhou mais “uns trocados” por estrelar há pouco tempo
um comercial de shampoo, visto que é mais importante o aspecto exibido
externamente, do que valorizar o que vai dentro da cabeça, não é mesmo?
Porém,
esse não é o único segmento que explora a sua imagem. Com uma infinidade de
contratos milionários em torno da marca “Neymar Jr.”, é perfeitamente
compreensível que o “garoto” tenha abusado em demasia de jogadas individuais e
permanecido os 90 minutos de todas as partidas da Copa, mesmo aparentemente não
reunindo condições físicas ideais. Mas como ficariam os interesses contratuais?
Não
resta dúvida de que se trata de um jogador bem diferenciado, com talento ímpar,
mas o aspecto megalomaníaco que o reveste não remonta de hoje. Sempre foi
tratado como sendo praticamente uma entidade apartada, maior que o Santos,
quando começou, Barcelona e PSG, com coleção de conflitos internos, e Seleção
Brasileira, onde é devidamente mimado.
Convém
destacar que Neymar não é e nunca deverá ser visto como nem vilão e nem como
vítima nesse contexto. Ele é apenas a personificação emblemática dessa
tendência, um produto de consumo, elaborado por uma mídia que enfatiza muito
mais as vaidades pessoais, justamente de um esporte que prima, antes de mais nada,
pelo senso de equipe, em busca do gol, derivada de “goal”, palavra inglesa que
significa “objetivo”.
Enquanto
o modelo a ser seguido for narcisista, de um jovem que insiste em se apaixonar
por sua própria imagem, admirada numa fonte onde jorram dólares e euros, será
apenas o reflexo de uma sociedade calcada no individualismo, que se importa
muito mais com “preço” do que com “valores”.
A
vida não é um jogo. Até quando seremos um país que não ataca a ignorância,
vivendo somente das “vitórias” do passado, que empata com a ineficiência do
presente e com seu sistema de defesa sempre exposto às goleadas impostas pelos
impiedosos contragolpes do futuro?
Para
finalizar, muitos dirão que esse texto está atrasado, já que a Copa de 2018 já
se foi “há muito tempo”. Talvez, mas nunca é tarde para se fazer uma
(re)leitura do momento. Resolvi publicá-lo somente depois de alguns meses,
justamente para não parecer paixão de torcedor. Além do mais, foi bom observar
com cuidado a postura das pessoas, desde o fim do Mundial até os dias atuais.
E
olha que aconteceu muita coisa relevante desde então, não é mesmo?... E falem a
verdade: senso de coletividade ZERO!... Assim como Neymar, cada um continua
olhando para si mesmo, para quanto vai sair ganhando “aqui ou ali”... E o pior;
baseando-se tão somente no lucro financeiro, como único objetivo a ser
alcançado, a qualquer preço!