Bocas
Bocas em silêncio, depois de falar de amor;
bocas que se buscam, lábios que se tocam.
Bocas que acendem o fogo da paixão,
para incendiar corpo e coração.
Bocas de crianças reclamando do abandono;
bocas que insistem em clamar por Deus.
Bocas sempre abertas esperando o pão,
pois a fome dói como a solidão.
(REFRÃO)
Ah!... Os homens se esquecem
Ah!... Os homens se esquecem
que as bocas existem pra sorrir, contar, falar...
E não pra se calar!
Ah!... Bocas que calam,
que nada falam, mas dizem tudo...
Bocas que se abrem num sorriso de alegria;
bocas que declamam versos poesias.
Bocas que transformam, com o seu cantar,
sentimento em sons, pensamento em voz.
Bocas que ordenam a matança de milhões;
bocas que se calam ante o mais forte.
Boca de um arma pode ser capaz
de calar a voz e ferir a paz.
(REFRÃO)
Ah!... Os homens se esquecem...
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(REFRÃO)
Ah!... Os homens se esquecem...
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AUTORES:
Alex Francisco Paschoalini, José Roberto Paschoalini e Paulo Cesar Paschoalini.
Registro nº: 196525, em 24/03/2000, no EDA / FBN.
- YOUTUBE: https://www.youtube.com/watch?v=sIykqmBpq4s
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COMENTÁRIO - Paulo Cesar Paschoalini:
“Uma
imagem vale mais que mil palavras”, diz uma expressão de autoria do filósofo
chinês Confúcio, que tornou-se um dito popular muito conhecido. Millôr
Fernandes, por sua vez, tomou esse pensamento milenar e sugeriu: “se uma imagem
vale mais que mil palavras, então diga isso com uma imagem”.
Assim,
antes do surgimento da escrita, e na falta de propagação de imagens, toda a
sabedoria que desembocou nos dias atuais foi transmitida de forma verbal, ou,
boca-a-boca, de pessoa para pessoa.
O
cantor e compositor Belchior mencionou em sua música “Como nossos pais” o
seguinte verso: “para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua, é que se
fez o seu braço, seu lábio e a sua voz”. Desse modo, além de se expressar
através da fala, a boca pode ainda demonstrar um sentimento através do beijo,
por exemplo.
E
foi justamente esse trecho da composição o ponto de partida. Bocas que também se
alimentam, sorriem e cantam, além de acompanhar a dor de um choro, silenciar por
vontade própria, ou calar-se por imposição. Daí veio à tona a música “Bocas”,
composta em parceria com Zé Roberto e Alex, há mais de 15 anos, baseada numa
época em que o mundo tinha seus conflitos inerentes àquele momento.
Se
considerarmos o tema abordado, não era algo exclusivo daquela época, uma vez que,
“desde que o mundo é mundo”, aquilo que menciona o conteúdo é algo recorrente. No
entanto, ao tomarmos contato com as informações que temos acesso nos dias de
hoje, infelizmente talvez essa letra seja mais atual ainda.
Sempre
se falou em amor, mas não de maneira tão superficial. Nunca se viu tanta fome,
mas poucas vezes de forma tão cruel. A necessidade de se expressar sentimentos tem
extrapolado o que se convencionou chamar de urgência. A violência e armamentos
sofisticados jamais mataram tanto.
A
gravação foi feita em estúdio amador, mas entendo que reúne condições para ser
ouvida com um mínimo de qualidade. Provavelmente uma produção profissional, com
vocais ao fundo, por exemplo, pudesse realçar e valorizar a composição. Embora
possa não ser uma música considerada “comercial”, às vezes a imagino na voz de
algum artista conhecido do grande público (sonhar faz bem).
Penso
ser o tipo de canção capaz de instigar a nossa reflexão sobre a necessidade de se
ter vez e voz no mundo, justamente numa época em que botões e gravatas
deliberadamente sufocam nossa garganta, não apenas dificultando a respiração,
mas, principalmente, para interferir na nossa inspiração.
Como
poema, o texto foi publicado na página 22 de meu livro “Arcos e Frestas”, em
2003. Como composição musical, espero que essas “Bocas” consigam gritar essa tal
realidade em que vivemos, mas a ausência de tempo nos impede de ver com a
devida clareza e com a dose de humanidade que tem faltado ultimamente.
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