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domingo, 4 de outubro de 2009

MINHA CITAÇÃO:


Experiência

“Nós não envelhecemos.
Na verdade, o tempo
apenas aplica diariamente
uma camada de experiência
sobre a nossa pele.”
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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini (Escrita em 13.06.2002)
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MINHA POESIA:


Faz-de-conta

Outro dia mesmo estava me divertindo,
assim meio descuidado, meio distraído,
e pelas brincadeiras de infância atraído.

Vieram outros dias, outras noites,
e, então, o tempo, sorrateiramente,
foi levando para longe de mim, dia após dia,
o pião que fazia girar as minhas fantasias;
as bolinhas de sabão, que eram meu alento,
foram desmanchando-se ao sopro do vento.

O faz-de-conta, os pés descalços, as “partidas”,
o “bate-bola” nos campinhos de terra batida;
as alegres brincadeiras de “esconde-esconde”,
me escondiam do mundo adulto, não sei onde.
Enfim, até me dar conta de que chegou o dia
que esconder já não mais conseguia.

Eu não gostei de ter crescido, realmente.
Vez por outra eu me perco à minha procura.
Eu queria ter de novo aquela estatura,
aquela inocência, aquela candura.
Não queira esse mundo de loucura,
onde a verdade se vai e a mentira perdura.
Eu queria ser um menino eternamente.

Na verdade sou criança, apesar da aparência,
e luto para não ser adulto, com veemência,
para não adulterar de vez a minha essência.

O pião perdeu-se num mundo que continua a girar,
as bolinhas de sabão desfizeram-se de vez pelo ar
e nas ruas asfaltadas meus pés calçados vêm pisar.

Mas eu sigo brincando de esconde-esconde, contudo,
com o tempo que insiste em transformar tudo;
faz de crianças felizes, adultos sisudos.

Meu corpo de adulto pelo tempo foi esculpido,
embora me sinta criança, num corpo crescido,
com roupas de adultos, mas espírito despido.

Quanto mais ele muda, mais me contraponho,
pois muda um reino encantado de sonhos,
em um mundo ainda mais infeliz e tristonho.

Cresci e não gostei; isso me desaponta.
Por isso mantenho esse desejo oculto,
insistindo em brincar de faz-de-conta,
“fazendo-de-conta” que sou adulto.


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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
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PREMIAÇÕES:
– Menção Honrosa no “X Concurso Nacional de Poesias-APLA”, da Academia Pontagrossense de Letras e Artes, da cidade de Ponta Grossa - PR.
– 7ª colocada no “XXXIX Festival de Música e Poesia – FEMUP 2004”, da Fundação Cultural de Paranavaí - PR, declamado por Bruna Boaretto, em 20/11/2004, noite de premiação do evento.
– Texto apresentado nos dias 15, 16 e 17/09/2006, no Teatro Municipal “Dr. Losso Neto”, em Piracicaba, durante do show "Simplesmente", do grupo musical "Falando da Vida", interpretado por Nelma Nunes, atriz que participa de espetáculos em Piracicaba e região.
Poesia publicada novamente no Blog em 03 de setembro de 2015, por ocasião da seleção do texto no "XIII Prêmio Escriba de Poesia", da cidade de Piracicaba-SP.
ATENÇÃO: Ao fazer uso de algum tipo de aplicativo para Tradução, é possível que o texto traduzido não seja necessariamente fiel ao original, já que cada idioma tem a sua particularidade, principalmente quando se tratar de conteúdo poético.
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MEU CONTO:


Um canto de liberdade

Os primeiros raios de sol começaram a iluminar o ninho que construí sobre a velha figueira, onde eu dormia, e me fez despertar. Assim que me pus em pé, agitei as asas e toda a plumagem amarelada para me espreguiçar melhor. Tudo indicava que era mais um dia normal ali naquele bosque. Parecia que seria novamente uma sucessão de horas e mais horas voando feliz pelo reino da Terra.


Voei, então, até o regato que contornava algumas árvores e caminhava pela mata desviando-me das pedras que permaneciam estáticas em seu leito. Beberiquei daquela água cristalina para saciar a minha sede matinal. Em seguida, saí para voar através daquele verde que a natureza plantou à minha volta e, enquanto batia as asas, eu engrossava o coral de cantoria que a passarada entoava toda a vez que o dia amanhecia.

Era maravilhoso ter todo o tempo do mundo para brincar com o vento e depois saltitar de galho em galho, de árvore em árvore, fazer vôos rasantes ao solo, ou subir alto em direção ao azul do céu salpicado de algumas nuvens esbranquiçadas. A alegria irradiava de um horizonte ao outro e era possível sentir a tranqüilidade que se espalhava por todo aquele “bosque encantado”.

Apesar de viver feliz naquele lugar, eu tinha muita curiosidade em saber o que acontecia além dos limites da mata. Mas eu sempre fui desencorajado pelas andorinhas a ir até lá. Elas contavam que lá tinha uma cidade grande onde vivia o ser humano, um animal estranho, incapaz de entender e respeitar os outros animais. Contavam que o homem chegava a aprisionar e a matar algumas espécies só por prazer. As andorinhas disseram, também, que os humanos eram capazes até de matar uns aos outros. Era difícil para mim acreditar nessas histórias, pois já cheguei a ver poucas vezes alguns adultos em companhia de crianças andando pelas trilhas da mata e eles não me pareciam agressivos.

De repente, um alvoroço tomou conta do bosque. Era um sinal de alerta para todos se cuidarem pois o “bicho homem” se aproximava. Voei rapidamente até o ninho e permaneci lá imóvel e em silêncio. Eu pude ouvir as suas vozes quando passaram próximo de onde eu estava e seguiram em frente. Arrisquei espiar e vi que pararam perto dali por alguns instantes e logo mais foram embora. Assim que o perigo passou, todos os animais deixaram o seu abrigo e a vida voltou ao normal por toda a mata.

Só por curiosidade, sobrevoei o lugar onde eles permaneceram por algum tempo e vi alguns objetos estranhos que deixaram por ali. Como eram esquecidas essas pessoas! Foram embora e não se lembraram de levar tudo aquilo que trouxeram. Eu sei que os outros pássaros tinham me alertado para não me aproximar dos humanos, mas eu queria saber algo mais sobre eles. Já que eu não podia ir até a cidade, não deixaria de perder a oportunidade de ver de perto alguma coisa feita por eles. Além do mais, tudo que estava ali parecia inofensivo. Então, eu cheguei mais perto e observei os detalhes daqueles materiais estranhos que eles produziam.

Era ao mesmo tempo curioso e fascinante ver o que a mão humana é capaz de fazer. Objetos de madeira e arame colocados de forma estranha, dando aos materiais um aspecto interessante. Notei, também, que os homens tinham deixado para trás um pouco de comida perto dos objetos. Como era hora do almoço, não poderia deixar passar todo aquele banquete que estava à minha frente, com quitutes que eu jamais havia visto e dificilmente veria novamente. Fui dando uma bicada aqui, outra ali e tudo estava uma delícia. Então saltei na direção de uma caixa de pedaços de madeira com fios de arame, que tinha bastante alimento dentro dela.

Porém, para a minha surprêsa, assim que me ajeitei no poleiro, uma tampa de arame se fechou sobre mim e eu me vi prisioneiro. Comecei a piar, aos gritos, mas os poucos que se aproximavam não conseguiram me tirar de lá. Naquele momento compreendi como era assustador ver o que a mão humana é realmente capaz de fazer.

Permaneci preso por algumas horas até que os humanos voltaram. Ficaram felizes ao me verem no alçapão onde eu estava e me levaram dali em direção ao povoado. Aí, finalmente eu conheci a tal cidade. Um emaranhado de pedras sobrepostas, repleta de seres humanos apressados e preocupados em não perder tempo. No ar esfumaçado, um cheiro desagradável que em nada lembrava o perfume que as flores que existiam na mata exalavam. O homem é um animal muito estranho, pois onde ele mora quase não existe árvores por perto e é um absurdo ver que o pouco de verde que ainda resta no lugar ele mesmo se encarrega de ir destruindo.

Hoje eu estou preso já há algum tempo numa gaiola. Desde que fui trazido para cá, eu sinto muito medo quando uma pessoa chega perto de mim. Aos poucos eu passei a entender o que os humanos falam, muito embora eles não me entendem nem um pouco. Toda vez que alguém diferente me vê, sempre pergunta se eu sou um canário do reino ou da terra. Que diferença isso faz já que o meu reino é toda a Terra? Ou pelo menos era.

Quando eu expresso algum som, alguém se aproxima de mim e sorri dizendo que eu estou cantando alegremente. Como pode um ser que se diz inteligente achar que alguém que está preso é capaz de cantar feliz? Como pode alguém, que luta tanto por sua própria liberdade, fazer tanto para tirar a liberdade de outro ser vivo, só porque tem uma plumagem de coloração atraente e emite um som interessante? Seria o mesmo que um ser humano prendesse outro de sua espécie, simplesmente por ele se vestir bem e ter uma linda voz. Isso seria um absurdo, assim como não tem nenhum cabimento eu estar preso.

Os homens não percebem que o som que eu emito não é um canto. Algumas vezes é um lamento e outras, um gemido de dor. Porém, na maioria das vezes, o meu “cantar” é um grito, um clamor por liberdade. Nesses sons que expresso eu tento manifestar que muitas vezes eu sinto fome e frio. Mas o que mais me machuca é a solidão e, principalmente, a tristeza por ter sido feito prisioneiro apenas porque a natureza me fez encantador e indefeso.

Todos os dias eu olho em direção ao “bosque encantado” e às vezes choro por saber que nunca mais vou voltar a ver aquele lugar. E sempre que eu vejo o topo da copa das árvores que lá existem, que estão cada vez mais distantes de mim, eu me pergunto: Que mal eu fiz ao ser humano para ele me condenar à prisão perpétua?!

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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
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– Menção Especial no “III Concurso Grandes Nomes da Nova Literatura Brasileira”, da cidade de São Paulo-SP.
– Selecionado no “Banco de Talentos 2003”, da Febraban.

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UMA CITAÇÃO...


Idades...

“Eu preparo uma canção
que faça despertar os homens
e adormecer as crianças.”

(Carlos Drummond de Andrade)

“Se eu soubesse
que iria viver tantos anos,
teria cuidado mais de mim.”

(Eubie Blake)

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COMENTÁRIO - Paulo Cesar Paschoalini:
Dessa vez não foi possível escolher apenas uma única citação. Na verdade, encontrei inúmeras frases que falam sobre o tempo, mais especificamente sobre a idade. Essas duas, no entanto, são para que possamos parar e refletir sobre nós e o tempo que nos acompanha, nas mais diversas etapas de nossa vida.
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UMA POESIA...


Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho
ficou perdida a minha face?

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Cecília Meireles, "Antologia Poética".

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COMENTÁRIO - Paulo Cesar Paschoalini:
Em se tratando de poesia, meus preferidos são Drummond e Cecília Meireles, pela profundidade e qualidade que possui seus textos. Esse poema contém uma espécie de lamento nas entrelinhas. Consegue trazer a leveza e ao mesmo tempo ser contundente, assim como faz o tempo quando muda a nossa face.
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sábado, 3 de outubro de 2009

MÚSICA:


Aquarela

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...

Corro o lápis em torno da mão
E me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu...

Vai voando,
Contornando a imensa curva Norte e Sul
Vou com ela viajando Havaí,
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul...

Entre as nuvens,
Vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...

Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...

Numa folha qualquer

Eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...

De uma América a outra

Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...

Um menino caminha

E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...

E o futuro é uma astronave

Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe

Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço O mundo
(Que descolorirá!)...
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MÚSICA: Aquarela
COMPOSITORES: Toquinho, Vinicius de Moraes, G.Morra e M.Fabrizio

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COMENTÁRIO - Paulo Cesar Paschoalini:
Nessa música, que é uma obra de arte tal qual uma aquarela, vale destacar o trecho:

"E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar..."

Uma definição de futuro muito realista. Porque não dizer, até um pouco assustadora.
No entanto, sem deixar de ter um conteúdo extremamente poético.
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