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Um novo ano começa e com ele mais uma edição do Big Brother Brasil, o famoso BBB, que a meu ver bobagem em dose tripla, ou outra coisa com “b” que o leitor entender que seja mais apropriada. E está em sua 10ª edição, portanto uma década de sucesso, segundo a emissora. Vamos por esse reallity show num recipiente e “espremer para ver se dá algum caldo”.
Primeiramente, é inevitável o questionamento a respeito do que faz desse tipo de programa um sucesso. Não se pode negar que a emissora sabe trabalhar muito bem a propaganda antes da estréia, gerando uma certa expectativa. Mas o que leva grande parte do público a fixar o olhar na televisão durante a exibição de programas dessa natureza?
O que se vê são diálogos inconsistentes de pessoas vivendo uma falsa rotina, diante de olhares curiosos de expectadores ávidos por cenas mais íntimas, envolvendo participantes dotados de atributos físicos que atraem a atenção do público. Talvez esse apelo estético seja o mais explorado, justamente porque quase nada se pode esperar dos candidatos com relação ao nível intelectual, já que eles têm muito pouco a oferecer nesse quesito.
Depois de algum tempo, o telespectador se vê revestido de poder suficiente para decidir o destino dos participantes, contrastando com a incapacidade que muitos têm de resolver a própria vida. Sente-se importante contribuindo na escolha daquele que vai ganhar uma considerável soma em dinheiro no final de algumas semanas, mas faz muito pouco para mudar a sua condição de assalariado mal remunerado de todo mês.
Questiona-se quem dentre os participantes será eleito o(a) mais simpático(a), o(a) mais bonito(a) ou o(a) mais sexy, mas não acerca do destino que está prestes a ser traçado por candidatos políticos num ano eleitoral que promete ser “quente”. Não se dá conta de que aquele que será escolhido no final programa não mudará em nada a sua vida. Em contrapartida, aquele que será realmente eleito nas urnas poderá decidir nos próximos anos sobre assuntos mais relevantes como educação, segurança, saúde, ou até mesmo determinar se muitos continuarão empregados ou não.
Sem poder interferir diretamente na estrutura televisiva, o público não tem a consciência de que é capaz de influir na grade de programação das emissoras, simplesmente se recusando a assistir a programas como esse. Ao invés disso, o telespectador se acomoda confortavelmente em sua poltrona e se sujeita ao papel de um “voyeur” compulsivo em busca de cenas picantes, ou acompanhando atrações de gosto duvidoso, que possam dar um certo tempero à vida insossa que normalmente muitos costumam levar.
Como âncora disso tudo, temos Pedro Bial, um sujeito que 1989 se notabilizou ao fazer a cobertura de um momento histórico para o mundo, que foi a queda do Muro de Berlin, na época, com reportagens de alto nível. No entanto, a carreira desse até então jornalista de renome veio a ter o mesmo destino do muro em questão. Seu nível de participações televisivas caiu tanto que hoje não passa de um apresentador de programa de futilidades. É de se lamentar que ele não seja o único a trilhar esse caminho, na conta-mão daquilo que se espera de uma programação com um mínimo de qualidade. Muitas outras pessoas que gozavam de respeito na televisão partiram para essa nova opção do “pagando bem, que mal tem”.
Talvez esse tipo de programa represente o retrato fiel do que tem sido a TV brasileira nesses últimos anos. Uma fábrica de alienação coletiva capaz de ditar normas, comportamentos e costumes àqueles que se submetem passivamente a esse fim. O telespectador constantemente se entrega a modismos da “telinha” e passa a se sentir “um poço de sabedoria” simplesmente por assistir a programas líderes de audiência, ou por saber cada vez mais das últimas novidades dos bastidores das emissoras.
Quem vai ganhar? É fácil de responder. Nesse tipo de programa todos os participantes saem ganhando de alguma forma. Por não serem artistas, passam a ocupar um considerável espaço na mídia. Alguns conseguirão ser capa de revistas dos mais variados gêneros, cujo conteúdo se assemelha ao nível do programa, e, assim, saem do anonimato e conseguem aqueles tais “15 minutos de fama”, que, na maioria das vezes é efêmera. É incrível como as emissoras de TV conseguem a proeza de dar notoriedade a pessoas nada notáveis.
Quem sai perdendo? Também não é difícil de responder. Mais uma vez o público perde o seu tempo assistindo a um programa que “vai do nada para lugar nenhum”, sem acrescentar algo de concreto à sua vida. Portanto, veremos que depois de “espremer” essa atração, “nada de caldo” e o telespectador como sempre acaba ficando com o “bagaço”.
Dessa maneira, na ânsia de conseguir índices de audiência a qualquer custo, as emissoras continuam apresentando cada vez mais do mesmo, com a mesma falta de conteúdo de sempre. E assim, enquanto a TV vai vendendo os seus produtos, o telespectador continua sendo um comprador de ilusões... ou desilusões?!
-------------------------------------------------Um novo ano começa e com ele mais uma edição do Big Brother Brasil, o famoso BBB, que a meu ver bobagem em dose tripla, ou outra coisa com “b” que o leitor entender que seja mais apropriada. E está em sua 10ª edição, portanto uma década de sucesso, segundo a emissora. Vamos por esse reallity show num recipiente e “espremer para ver se dá algum caldo”.
Primeiramente, é inevitável o questionamento a respeito do que faz desse tipo de programa um sucesso. Não se pode negar que a emissora sabe trabalhar muito bem a propaganda antes da estréia, gerando uma certa expectativa. Mas o que leva grande parte do público a fixar o olhar na televisão durante a exibição de programas dessa natureza?
O que se vê são diálogos inconsistentes de pessoas vivendo uma falsa rotina, diante de olhares curiosos de expectadores ávidos por cenas mais íntimas, envolvendo participantes dotados de atributos físicos que atraem a atenção do público. Talvez esse apelo estético seja o mais explorado, justamente porque quase nada se pode esperar dos candidatos com relação ao nível intelectual, já que eles têm muito pouco a oferecer nesse quesito.
Depois de algum tempo, o telespectador se vê revestido de poder suficiente para decidir o destino dos participantes, contrastando com a incapacidade que muitos têm de resolver a própria vida. Sente-se importante contribuindo na escolha daquele que vai ganhar uma considerável soma em dinheiro no final de algumas semanas, mas faz muito pouco para mudar a sua condição de assalariado mal remunerado de todo mês.
Questiona-se quem dentre os participantes será eleito o(a) mais simpático(a), o(a) mais bonito(a) ou o(a) mais sexy, mas não acerca do destino que está prestes a ser traçado por candidatos políticos num ano eleitoral que promete ser “quente”. Não se dá conta de que aquele que será escolhido no final programa não mudará em nada a sua vida. Em contrapartida, aquele que será realmente eleito nas urnas poderá decidir nos próximos anos sobre assuntos mais relevantes como educação, segurança, saúde, ou até mesmo determinar se muitos continuarão empregados ou não.
Sem poder interferir diretamente na estrutura televisiva, o público não tem a consciência de que é capaz de influir na grade de programação das emissoras, simplesmente se recusando a assistir a programas como esse. Ao invés disso, o telespectador se acomoda confortavelmente em sua poltrona e se sujeita ao papel de um “voyeur” compulsivo em busca de cenas picantes, ou acompanhando atrações de gosto duvidoso, que possam dar um certo tempero à vida insossa que normalmente muitos costumam levar.
Como âncora disso tudo, temos Pedro Bial, um sujeito que 1989 se notabilizou ao fazer a cobertura de um momento histórico para o mundo, que foi a queda do Muro de Berlin, na época, com reportagens de alto nível. No entanto, a carreira desse até então jornalista de renome veio a ter o mesmo destino do muro em questão. Seu nível de participações televisivas caiu tanto que hoje não passa de um apresentador de programa de futilidades. É de se lamentar que ele não seja o único a trilhar esse caminho, na conta-mão daquilo que se espera de uma programação com um mínimo de qualidade. Muitas outras pessoas que gozavam de respeito na televisão partiram para essa nova opção do “pagando bem, que mal tem”.
Talvez esse tipo de programa represente o retrato fiel do que tem sido a TV brasileira nesses últimos anos. Uma fábrica de alienação coletiva capaz de ditar normas, comportamentos e costumes àqueles que se submetem passivamente a esse fim. O telespectador constantemente se entrega a modismos da “telinha” e passa a se sentir “um poço de sabedoria” simplesmente por assistir a programas líderes de audiência, ou por saber cada vez mais das últimas novidades dos bastidores das emissoras.
Quem vai ganhar? É fácil de responder. Nesse tipo de programa todos os participantes saem ganhando de alguma forma. Por não serem artistas, passam a ocupar um considerável espaço na mídia. Alguns conseguirão ser capa de revistas dos mais variados gêneros, cujo conteúdo se assemelha ao nível do programa, e, assim, saem do anonimato e conseguem aqueles tais “15 minutos de fama”, que, na maioria das vezes é efêmera. É incrível como as emissoras de TV conseguem a proeza de dar notoriedade a pessoas nada notáveis.
Quem sai perdendo? Também não é difícil de responder. Mais uma vez o público perde o seu tempo assistindo a um programa que “vai do nada para lugar nenhum”, sem acrescentar algo de concreto à sua vida. Portanto, veremos que depois de “espremer” essa atração, “nada de caldo” e o telespectador como sempre acaba ficando com o “bagaço”.
Dessa maneira, na ânsia de conseguir índices de audiência a qualquer custo, as emissoras continuam apresentando cada vez mais do mesmo, com a mesma falta de conteúdo de sempre. E assim, enquanto a TV vai vendendo os seus produtos, o telespectador continua sendo um comprador de ilusões... ou desilusões?!
AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
- Texto original publicado na página A-2 do JORNAL DE PIRACICABA, de 03.04.2002
- Texto atualizado para edição em 2010.
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- Este texto está disponível na intranet do Banco do Brasil > Acesse Sua Área > Cadernos > Palavras Cruzadas, publicado pela VITEC-Brasília em 03.02.2010 e acessível a mais de 100.000 funcionários.
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- Este texto está disponível na intranet do Banco do Brasil > Acesse Sua Área > Cadernos > Palavras Cruzadas, publicado pela VITEC-Brasília em 03.02.2010 e acessível a mais de 100.000 funcionários.
- Texto original, do mesmo autor, publicado na pág. A-2 do "JP", em 03.04.2002. Um agradecimento especial a Joacir Cury, na época Editor Chefe do Jornal de Piracicaba, pela publicação da crônica.
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Sem mais comentários! Já disse tudo! Estou levando para o meu grupo. Obrigada e parabéns!
ResponderExcluirBjs,
Ana Maria
O que mais me assusta nisso tudo Paulo, é que as pessoas estão cada vez mais dependentes desta famigerada interatividade comercial, pois conforme os patrocinadores televisivos, nosso carro já não presta, nossas roupas e sapatos estão fora de moda, nossa pele sem aquele sabonete não sobreviveria e etc., afunilando para uma só finalidade, o consumismo desenfreado e desnecessário. Parabéns!!!
ResponderExcluirMarcelo Aguado Perez