1 - INTRODUÇÃO:
No ano seguinte após o fim da II
Guerra Mundial, o filósofo francês Jean Paul Sartre publica seu livro “O Existencialismo é um humanismo”. Embora o cenário fosse de pessimismo por ter conhecido os
horrores do conflito, Sartre dizia que o Existencialismo não era uma filosofia
passiva, mas algo capaz de tornar possível a vida humana.
O Existencialismo
proposto por Sartre prega que nós não nascemos prontos e, por essa razão, temos
a possibilidade de nos construir durante a vida. Sendo assim, é preciso estar
consciente de que nossa ação individual acabará por refletir para toda a
humanidade.
Mas o que seria, então, essa
nova visão existencialista? O que ela trazia de novo para o ser humano, que
faz com que seja objeto de estudos filosóficos para nossa vida?
Para responder esses
questionamentos, apresentamos no trabalho que se segue uma reflexão sobre o
artigo “A construção consciente do homem”, que trata do tema mencionado, de
autoria do Prof. Isaias Kniss Sczuk, publicado na revista
“Filosofia - Ciência e vida”, de setembro de 2012.
2.1 – ANGÚSTIA E LIBERDADE:
Há duas correntes diferentes no Existencialismo: os cristãos e os ateus, que nessa segunda situação Sartre está incluído. Apesar dessa divergência, ambas admitem que a existência precede a essência, ou que o ponto de partida deva ser a subjetividade. Pois, para o Existencialismo, como o próprio nome sugere, o homem simplesmente existe e sua essência será aquilo que ele projetar, levando em consideração onde estiver inserido.
Há duas correntes diferentes no Existencialismo: os cristãos e os ateus, que nessa segunda situação Sartre está incluído. Apesar dessa divergência, ambas admitem que a existência precede a essência, ou que o ponto de partida deva ser a subjetividade. Pois, para o Existencialismo, como o próprio nome sugere, o homem simplesmente existe e sua essência será aquilo que ele projetar, levando em consideração onde estiver inserido.
Dessa forma, Sartre diz que o
homem tem de construir a si mesmo, pois, caso contrário, ele não será nada
enquanto não fizer algo coisa. Conforme mencionado no artigo, “o homem é, antes de qualquer coisa, um projeto que vive subjetivamente”, não
existindo, portanto, nada que anteceda esse projeto.
A construção do ser humano é
resultado de processos históricos e esse “ser no mundo” não é somente
responsável pela sua individualidade, mas por toda a humanidade, pois
influenciamos e somos influenciados por tudo. E isso que gera no homem a
angústia, a responsabilidade em decidir seu futuro, já que não encontra nenhum
fator externo para se agarrar, para fazer isso por ele, visto que para o
filósofo, Deus não existe.
Para Sartre, não existe
determinismo, pois o homem é livre e “está condenado a ser livre”, o único
responsável por suas escolhas, sendo ele, assim, agente e fruto da própria
liberdade. Ser livre não pertence à essência, mas a liberdade dá suporte à sua
essência. O homem não escolhe a liberdade, mas é lançado nela, já que ela
precede o ser.
O homem não nasceu pronto e sua
liberdade de escolha possibilita que se torne aquilo que ele ainda não é.
Então, seria ele o que se poderia chamar de “não ser”, algo indefinido e
indeterminado, que só será construído por suas ações.
2.2 – O SER EM-SI, PARA-SI
E PARA-O-OUTRO:
Quando o
homem passa a ter consciência de si mesmo e do outro, passa a perceber-se como
existência consciente. Uma consciência existindo no mundo, dirigida e
transcendente na direção do mundo.
A relação
do homem no mundo se faz com outro ser, distinto de si; o ser das coisas. Esse
ser é pleno e idêntico a ele mesmo, que Sartre denomina “em-si”. Esse ser “em-si”
não possui história, devir ou potencialidade. O homem é tão somente o movimento
em direção às coisas. De acordo com o filósofo francês “o ser ‘em-si’ apenas é em sua plenitude”.
Além do ser “em-si”, Sartre fala sobre a existência do ser “para-si”, um
ser essencialmente humano, que, diferentemente do “em-si”, não é pleno e busca
constantemente completar-se. Por ser incompleto, inacabado, é que esse
“para-si” vai se construindo através do fato de ser livre, sendo impossível a
ele não fazer escolhas, uma vez que a opção por não escolher já significa uma
escolha que ele faz.
Assim, podemos constatar uma situação paradoxal, já que, sendo o homem
dotado de liberdade para fazer escolhas, é impossível escolher não ser livre. O
fato de ele existir é uma contingência, ou manifestações da “factilidade da
liberdade”, ou seja, um lugar, um corpo, um passado, condição social e contexto
histórico.
Sartre concebe também o que ele chama de ser “para-o-outro”. Nesse caso,
ele diz que “é necessário reconhecer primeiro o
outro como outro para depois o
sujeito se
reconhecer”. O homem percebe-se e se constrói através
da relação com o ser “para-o-outro”, de estrutura conflituosa. Para o filósofo,
“quando duas pessoas se medem pelo olhar, é inevitável que uma tente paralisar a outra, isto é, apossar-se da liberdade da outra”. Ele menciona, ainda, que o outro representa o limite do seu ser.
Podemos constatar que o homem se vê condenado a ser livre e também a ser
responsável por si mesmo. No entanto, muito embora Sartre exponha a existência de
limites para as coisas e para os outros, não coloca-os como sendo obstáculos à
sua liberdade.3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A
contribuição de Sartre é sem dúvida alguma muito importante para o pensamento
humano. Instiga o homem a refletir sobre a sua plena liberdade e faz com que tenha
a consciência de que deva assumir a responsabilidade pelo seu futuro.
Embora o
Existencialismo tenha surgido num momento após a II Guerra Mundial, os
conflitos agora não são propriamente envolvendo confrontos entre grandes
potências, mas eles não deixam de existir de maneira localizada. Quer sejam
entre países diferentes, disputas internas, ou mesmo relações sociais, estamos
assistindo a momentos de elevadas tensões, pelos mais variados motivos.
A relação
com o outro é marcada por conflitos que soam como absurdos ao próprio homem,
mas ele mesmo não se dá conta de que tudo é fruto da sua liberdade de escolha. Apesar
de ser responsável pela construção de si, suas atitudes estão muito mais
pautadas em atos que tem contribuído para a destruição da relação com esse
outro.
Talvez seja esse o ponto crucial que Sartre nos
convida a refletir. Realmente é de fato angustiante ter a consciência de que ser
único responsável pelo seu futuro e ter a percepção de que aquilo que escolhe
tem influência em toda a humanidade.
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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO: Trabalho do componente curricular de AACC - Atividade Acadêmica Cultural e Científica, apresentado durante a graduação em Licenciatura em Filosofia, pela Faculdade "Claretiano - Rede de Educação", Polo de Rio Claro-SP.
A publicação no blog é um convite para uma reflexão sobre o tema do artigo, além de estimular a leitura desse e outos assuntos que abordam aspectos da natureza humana. A imagem mostra o filósofo francês Jean-Paul Sarte. É claro que existem fotos que retratam melhor a pessoa de Sartre, do que a escolhida. Porém, achei essa muito mais expressiva, que mostra o filósofo francês sozinho na imagem (apesar da outra sombra), que nos remete a uma atmosfera de angústia, justamente numa paisagem cinza, com o ser humano rumo a um horizonte indefinido.
A publicação no blog é um convite para uma reflexão sobre o tema do artigo, além de estimular a leitura desse e outos assuntos que abordam aspectos da natureza humana. A imagem mostra o filósofo francês Jean-Paul Sarte. É claro que existem fotos que retratam melhor a pessoa de Sartre, do que a escolhida. Porém, achei essa muito mais expressiva, que mostra o filósofo francês sozinho na imagem (apesar da outra sombra), que nos remete a uma atmosfera de angústia, justamente numa paisagem cinza, com o ser humano rumo a um horizonte indefinido.
REFERÊNCIA: SCZUK, Isaias Kniss, A
construção consciente do homem. Filosofia
Ciência & Vida, São Paulo, ano VII, n. 75, p. 60-71, out. 2012.
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