A
invasão silenciosa das palavras
Quando observamos a história, constamos
que ela é escrita pela ótica dos conflitos entre povos, que desenharam a
geopolítica existente, estabelecendo as fronteiras dos dias atuais. Toda vez
que um povo era conquistado, o vencedor impunha a todo custo a cultura, religião
e costumes, além do idioma.
Não é novidade que termos oriundos de
outros países fazem parte do nosso linguajar. Muitos foram aportuguesados,
sofrendo pequenas alterações para se adequarem ao idioma. Para ilustrar, do
latim originaram palavras como estilo, item, lucro e ônibus; do árabe, açougue,
açúcar, alfaiate, algodão, arroz e garrafa; do italiano, aquarela, banquete, boletim,
camarim, maestro e tchau; do francês: abajur, dossiê, garçom, menu, e toalete. Mas
têm mais.
A língua inglesa também se faz
presente. O chamado “anglicismo” é a incorporação de termos em inglês, para
designar objetos ou fenômenos novos ao nosso vocabulário. Mas alcançou enorme
proporção após o advento da informática. Por exemplo: internet, Facebook, whatsapp, back-up, CD, display, download, e-book,
e-mail, fake, hacker, interface, link, login, mouse, net, notebook, no-break,
off-line, on-line, pixel, playlist, press, print, scanner, software, site,
smartphone, spam, twitter, tablet, wi-fi e word, entre outros.
A princípio, somos levados a acreditar
que o contato com palavras estrangeiras se dá somente quando estamos às voltas
com o ambiente de estudos ou trabalho. Vejamos abaixo a descrição de um momento
de lazer. As palavras estrangeiras, de várias origens, foram grafadas em destaque:
Depois de ir ao Shopping e pagar com meu CARD,
passei pelo pedágio com minha pick-up, flex com airbag, recebi o ticket e
saí para curtir o réveillon com a
família. Não precisa ser expert para
ver que o hotel era top, bem classificado no ranking do segmento, padrão Spa, ideal para um relax.
Tratamento VIP, conforme o marketing que
constava no outdoor (ou, billboard) do Resort.
Após o check-in, fizemos um tour,
até a liberação do quarto. Era tipo standard,
com um hall para acesso a dois
ambientes, de layout muito agradável.
Num deles, uma cama box, ladeada por um
abat-jour de design moderno e um poster
com cores em dégradé, no alto da
parede. Ao lado, uma minicozinha com frigobar
e cooktop com timer.
No período da tarde, peguei meu kit de fitness: tennis, short de nylon
e camiseta de poliester, para
atividade indoor. O monitor agia como
um personal trainer, ajudando a melhorar
minha performance. Em seguida, fui
até uma piscina com ondas, parecendo praia de surf, com pessoas exibindo tattoo
e piercing.
Para quem estava acostumado com sandwich de hamburger ou hotdog com katchup, do menu do trailer da
esquina, ou um delivery do Disk-pizza, a comida do jantar era o must. O garçon serviu o couvert, com
croissant e pâté. Bebidas free, já
que era all inclusive, podendo abusar
de drinks e cervejas long neck, ao invés de refrigerantes diet. Comidas no sistema self-service, com grill à vontade.
Durante o jantar, músicas light e em seguida um show com pot-pourri de ritmos country,
pop e funk. No final da noite, flash night para quem gosta de rock, realçado pela qualidade de back vocal e luzes de neon, led e laser. As
apresentações cover, com o look correspondente, foram o up da noite.
Após esse período fora do meu habitat, meu feeling me diz que esse upgrade
foi essencial, antes de eu dar um feedback
ao cardiologista, que me alertou sobre fazer um check-up, para ver se está tudo OK
comigo. Espero que ele me receite um replay
disso tudo.
Como podemos observar, são expressões
que já fazem parte do nosso dia a dia. Para alguns linguistas, isso representa
uma evolução. Há quem diga se tratar de uma invasão silenciosa das palavras, ou uma
sutil colonização através de uma nova cultura. Eu costumo dizer, ironicamente,
que a língua falada no Brasil sofreu tanta influência de termos estrangeiros,
que até o livro de definição de suas palavras, o “Aurélio”, é “de Holanda”.
Temos que ficar online com as novidades, para não nos vermos off-line do mundo.
Thank
you and goodbye.
The
end.
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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO:
Um texto baseado na crônica publicada no Jornal de Piracicaba, em
2002, com termos atualizado, novos ingredientes, e descrição de um cenário diferente
àquele mencionado na época. Postado neste Blog em 21.03.2017.
PESQUISA: http://www.portaldalinguaportuguesa.org.
O texto também foi publicado no site "Portal
Raízes", e pode ser acessado através do link: http://www.portalraizes.com/invasao-silenciosa-das-palavras, ou pelo Facebook do "Portal": https://www.facebook.com/portalraizes/?fref=ts.
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