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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

MEU TEXTO:

O abade e o religioso

Num povoado muito distante, havia um religioso que tinha se estabelecido por lá, há cerca de uma década.

Durante esse período, muita coisa boa aconteceu naquele lugar. Apesar das dificuldades existentes no reino, por influência desse religioso, o número de pessoas que passou a se interessar pela espiritualidade aumentou muito.

A notícia se espalhou a tal ponto, que pessoas das vilas vizinhas também começaram a frequentar os encontros com o religioso, aumentando, assim, a quantidade de atividade, devido à inegável qualidade e sensibilidade daquilo que ele falava.

Porém, quando tudo parecia perfeito, quando tudo estava coberto de bênçãos, o abade superior ordenou que ele fosse transferido de lá. Isso provocou estranheza e descontentamento por parte de todos os fiéis.

Como o religioso era adorado pelas crianças, um dia um menino com o semblante muito triste, fez vários questionamentos ao pai sobre a saída daquele a quem ele aprendeu muitas coisas boas:

– Pai, o religioso é uma pessoa boa?
O pai respondeu:
– Sim!... Claro que sim, meu filho.

– As pessoas gostam do que ele faz?
– Evidente que sim. Gostam e o admiram muito.
– Ele sempre foi um exemplo para todos?
– Sempre!
– Ele aumentou o número de pessoas para ouvi-lo falar?
– Certamente que sim.

O garoto seguiu ainda com mais três perguntas, para o pai:
– Com a saída dele, pode ser que outros segmentos se fortaleçam, né?
– Se tudo isso tem dado muito certo, porque que tem que acabar?
– Então, pai, porque o abade está tirando ele de nós?

Todas as perguntas que o garoto fazia tinha tanta lógica que o pai não encontrava argumento que convencesse ambos. Pela primeira vez o pai não soube o que responder ao filho e ficou em silêncio.

Vendo que o pai não se manifestava, o menino ainda insistiu:

– Pai, para ser abade a pessoa precisa estudar muito?
– Sim, filho. Precisa estudar bastante.
– Quando as pessoas têm mais estudo, as pessoas não deveriam ter também mais inteligência?

Mais uma vez o pai manteve-se quieto por um tempo... Em seguida, fez o seguinte comentário:

– Filho, o estudo é algo muito importante. Por isso, utilize o exemplo da atitude do abade com relação ao religioso, como uma lição de vida. Quando você estiver devidamente formado e exercer um cargo de responsabilidade, como a do abade, lembre-se sempre que a inteligência deve se sobrepor à vaidade pessoal, teimosia e autoritarismo, sempre em nome do bem comum.

E prosseguiu:

– Mesmo que você consiga ser reconhecido e bem sucedido naquilo que se propuser a fazer, lembre-se que isso pode incomodar muita gente e, por melhor que você faça, sempre haverá quem vai achar o resultado daquilo que você conseguiu como sendo QUASE EXEMPLAR.

E completou:

– Mas não se preocupe. Toda vez que você fizer algo importante, sempre haverá aqueles que vão se incomodar com isso. Pode ser até que entre os incomodados estejam justamente quem se veja numa posição superior e conhecido justamente por uma porção de atitudes NADA EXEMPLARES!

Apesar dos eventuais títulos que o abade pudesse ter, não resta a dúvida de que havia uma palavra relacionada a ele, que era algo somente "da boca pra fora" e que não era inerente à sua natureza: "Dom". Isso ele não conseguia trazer consigo e era visível se tratar de algo que não fazia parte da sua essência.

E assim, por imposição de sua vaidade pessoal, o abade cometeu dois pecados capitais: a inveja e a soberba. A comunidade é quem pagou por isso. O religioso, por sua vez, foi preparando aos poucos a sua saída, e o povoado acabou ficando sem os “PRAZERES” da sua presença.

No jogo da vida, enquanto os lances correm por entre casas claras e escuras, a comunidade se vê obrigada a seguir as regras. Por se ver em xeque, na mudança que se processa no tabuleiro, se tiver opção por alguma peça, em especial, terá mais cuidado no tratamento com os peões do que com o bispo.

"QUE BOM QUE VOCÊ VEIO!"... QUE PENA QUE TENHA DE IR!!!

OBSERVAÇÕES:
Trata-se de uma história muito antiga... Ou seria ela atual?
Qualquer semelhança é mera coincidência... Ou será que não?

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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO:
Para muitas pessoas que estão lendo este texto, ele poderá não fazer muito sentido. O que me motivou a escrevê-lo foi um acontecimento local, mais precisamente afeto ao Bairro de Vila Rezende, em Piracicaba-SP. Resolvi não ser muito específico ou contundente, mas, de qualquer maneira, achei por bem deixar registrada a minha indignação.
Em todos os segmentos da sociedade, quer seja comercial ou esportivo, sempre se faz vale a máxima de que "em time está ganhando não se mexe". Porém, quando se trata de se lidar com ser humano e seu aspecto espiritual, decide-se mexer, muito mais por uma vaidade pessoal e teimosia, justamente com aquele que tem arrebanhado e encantado não somente fiéis, mas seres humanos em busca da espiritualidade. Resolve-se fazer prevalecer o autoritarismo em detrimento do bom senso e do bem comum.
Acreditar que alguém, por estar numa posição hierárquica mais elevada é dono da verdade, agindo contra a vontade e clamor de uma comunidade, é constatar que essa instituição, ao permitir tal atitude movida por um "capricho autoritário", não tem primado, nesse caso específico, pelo bom senso. É preciso rezar muito por aquelas pessoas, pela flagrante falta de inteligência.  
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