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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

MINHA POESIA:



Faz de conta

Outro dia mesmo estava me divertindo,
assim meio descuidado, meio distraído,
e pelas brincadeiras de infância atraído.

Vieram outros dias, outras noites,
e, então, o tempo, sorrateiramente,
foi levando para longe de mim, dia após dia,
o pião que fazia girar as minhas fantasias;
as bolinhas de sabão, que eram meu alento,
foram desmanchando-se ao sopro do vento.

O faz de conta, os pés descalços, as ‘partidas’,
o “bate-bola” nos campinhos de terra batida;
as alegres brincadeiras de ‘esconde-esconde’,
me escondiam do mundo adulto, não sei onde.
Enfim, até me dar conta de que chegou o dia
que esconder já não mais conseguia.

Eu não gostei de ter crescido, realmente.
Vez por outra eu me perco à minha procura.
Eu queria ter de novo aquela estatura,
aquela inocência, aquela candura.
Não queira esse mundo de loucura,
onde a verdade se vai e a mentira perdura.
Eu queria ser um menino eternamente.

Na verdade sou criança, apesar da aparência,
e luto para não ser adulto, com veemência,
para não adulterar de vez a minha essência.

O pião perdeu-se num mundo que continua a girar,
as bolinhas de sabão desfizeram-se de vez pelo ar
e nas ruas asfaltadas meus pés calçados vêm pisar.

Mas eu sigo brincando de esconde-esconde, contudo,
com o tempo que insiste em transformar tudo;
faz de crianças felizes, adultos sisudos.

Meu corpo de adulto pelo tempo foi esculpido,
embora me sinta criança, num corpo crescido,
com roupas de adultos, mas espírito despido.

Quanto mais ele muda, mais me contraponho,
pois muda um reino encantado de sonhos,
em um mundo ainda mais infeliz e tristonho.

Cresci e não gostei; isso me desaponta.
Por isso mantenho esse desejo oculto,
insistindo em brincar de faz de conta,
‘fazendo de conta’ que sou adulto.

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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO:
Texto selecionado em Concursos de âmbito nacional, além de apresentado em eventos literários. Consta do livro de poesias “Mar adentro, mundo afora...”, aguardando patrocínio para publicação.
PREMIAÇÕES EM CONCURSOS LITERÁRIOS:
- Menção Honrosa no “X Concurso Nacional de Poesias-APLA”, da Academia Pontagrossense de Letras e Artes, da cidade de Ponta Grossa-PR (versão reduzida).
- 7ª colocada no “XXXIX Festival de Música e Poesia – FEMUP 2004”, da Fundação Cultural de Paranavaí-PR, declamado por Bruna Boaretto, em 20/11/2004, na noite de premiação.
- Texto apresentado nos dias 15, 16 e 17/09/2006, no Teatro Municipal “Dr. Losso Neto”, em Piracicaba, durante o show "Simplesmente", do grupo musical "Falando da Vida", interpretado por Nelma Nunes, atriz que que atua em Piracicaba e região.
- Poesia selecionada para compor o encarte comemorativo aos 25 anos do grupo musical "Falando da Vida", da cidade de Piracicaba, no ano de 2010.
- Texto selecionado no “XIII Prêmio Escriba de Poesia”, da cidade de Piracicaba-SP, no ano de 2015, foi uma das 31 escolhidas dentre mais de 1.300 textos inscritos, enviados por 684 candidatos, sendo 18 do exterior e os demais de todos os cantos do Brasil.
- Registro nº: 640.346, em 14/04/2014, no EDA / FBN.
COMENTÁRIO: O texto foi publicado na "Revista Vicejar", em 14.10.2019, onde o escritor possui vários textos de sua autoria, atuando como Colaborador do Blog. Para ler mais acesse:
LINK DO TEXTO: https://revistavicejar.blogspot.com/2019/10/faz-de-conta.html .
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Um comentário:

  1. Maravilhosa poesia! De fato, crescer nos tira a candura... ser "gente grande" nos apequena a alma e a fantasia...

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