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domingo, 28 de novembro de 2010

MINHA CRÔNICA:


O sonho não acabou
“... Me diz como pode acontecer, um simples canalha mata um rei, em menos de um segundo.” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos em “Canção do novo mundo”)
No dia 8 de dezembro de 1980 o mundo despertou perplexo com o assassinato de John Lennon. A boca da arma de Mark David Chapman, um fanático (sempre eles!), calou para sempre a voz do ex-Beatle, com cinco tiros à queima-roupa. Uma atitude que até hoje suscita dúvidas quanto ao que motivou esse lunático a cometer tal ato de covardia. Existem fortes suspeitas de que Chapman foi apenas o executor e não o mentor do assassinato.

Arquivos do FBI divulgados na década de 90 revelaram uma preocupação das autoridades dos Estados Unidos com o músico, que tinha um estilo de vida pouco convencional para a época. Seus passos eram seguidos de perto e cada atitude de Lennon era objeto de investigações secretas e consequente fichamento por parte do “Bureau” norte-americano, que o considerava uma ameaça, já que ele cometia o “absurdo” de se posicionar abertamente contra as guerras, especialmente a do Vietnã, e pregava a paz através de manifestações públicas ou em suas composições, com em “Give peace a chance” (Dê uma chance à paz), gravada em 1969.

Porém, sua maior obra na carreira solo foi gravada dois anos mais tarde. “Imagine” se tornou o hino de uma geração e, com os acontecimentos do mundo de hoje, está mais atual do que nunca.

“... Imagine não existir países. Isso não é difícil de se fazer. Sem matar ou morrer e sem religião também. Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz...”

Para muitos essa música, que nos convida a uma reflexão, tem um conteúdo utópico. Para Lennon, no entanto, trata-se de um sonho perfeitamente possível de tornar-se realidade.

“... Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Eu espero que algum dia você se junte a nós e o mundo será um só.”

Quase quarenta anos depois de “Imagine”, quanto matar e morrer em nome de religiões ou fronteiras! Como é difícil viver em paz atualmente! Na música “Comentário a respeito de John” o compositor Belchior, em parceria com José Luis Penna, destaca a dificuldade em se conseguir a felicidade e a paz: “...John, eu não esqueço, a felicidade é uma arma quente.”

Realmente, pode parecer impossível mudar o mundo todo. Mas uma grande transformação só começa a se processar através de pequenas ações. Basta começarmos a mudar a nós mesmos e, a partir daí, pequenas mudanças para melhor ocorrerão, mesmo que seja apenas no pequeno mundo ao nosso redor. Quem sabe assim, aos poucos, um dia “o mundo será um só”, como sonhava John Lennon.

Aquela “árvore” que caiu há 21 anos espalhou suas sementes em todas as direções e a qualquer momento brotarão, para um dia darem os frutos esperados. Pena que essas sementes têm sido regadas apenas por lágrimas ultimamente. Infelizmente não nos damos conta de que a paz e a felicidade estão tão perto. Basta cultivá-las dentro de cada um de nós que certamente elas germinarão um dia qualquer.

Apesar de estarmos próximos de lembrar os 30 anos da morte de Lennon, gostaria de destacar também os demais Beatles, que não só marcaram uma geração como continuam a influenciar músicos atuais. Paul McCartney, que esteve recentemente no Brasil para realização de shows inesquecíveis, sempre com lotação esgotada. Tudo o que for dito sobre Paul deixará cada vez mais evidente sua genialidade, talento e carisma, ainda arrastando multidões. Melhor do que falar sobre ele é ainda ter o privilégio de ver suas apresentação e ouvir suas canções, mesmo que pela TV.

Já Ringo Star continua a ser discreto e, pelo que consta, com pouca ou quase nenhuma aparição pública.

Sobre George Harrison, outro Beatle falecido, pode-se dizer que o guitarrista dos Beatles era alguém sensível e talentoso e, por isso mesmo, não menos importante que os demais. Na carreira solo, encontrou o espaço que precisava para mostrar que também era um compositor extraordinário. Além do mais, deixou evidenciada a sua tendência espiritual, principalmente quando gravou em 1971 a música “My sweet Lord”, além de sua preocupação com as causas humanitárias. Também foi vítima de um atentado, sendo esfaqueado no peito por Michael Abram, um fanático (olha outro aí!) que invadiu a sua casa em Londres em 1999. Apesar desse fato isolado, viveu em paz consigo mesmo e sempre buscando uma integração harmoniosa com o universo.

Apesar de suas músicas imortais, cada integrante dos Beatles segue o caminho de qualquer outro mortal. Aos poucos, cada sonhador faz dos sonhos a sua realidade possível e sai de cena do palco da vida. Mas, na verdade, o sonho não acabou. Apenas a cada dia se renovam os sonhadores.

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AUTOR: Paulo Cesar Paschoalini
- Crônica publicada na página A-2 do Jornal de Piracicaba, de 08/12/2001.
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COMENTÁRIO: O texto acima foi ligeiramente alterado da crônica original, levando-se em conta os dados atuais, como os shows de Paul McCartney que foram acrescentados, além da menção do tempo decorrido dos fatos.
Agradecimento especial a Joacir Cury, na época Editor Chefe do "JP", pela publicação da crônica.
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