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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

UMA CRÔNICA...


Uma eleição para esquecer

Embora tivesse escrito dias antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2010, fiz questão de divulgar estas linhas apenas depois do “fato consumado”, para não ser taxado de apoiador deste ou daquele candidato.
Devo confessar que fiquei decepcionado com o resultado desta eleição. Não pelos números de votos que cada concorrente ao cargo máximo do governo teve, mas por tudo o que cercou essa corrida presidencial, em especial na internet.

Vi minha caixa postal de e-mails sendo bombardeada de informações bizarras e sem o menor fundamento. Sei que nenhum dos dois candidatos é modelo de santidade e nem têm um passado exemplar, mas aquilo que li foi de amargar.

De início achei engraçado, mesmo porque boa parte dos e-mails ou ridicularizavam a imagem deles, às vezes de maneira criativa, ou passavam informações tão fora de propósitos que acreditava ser piada. Afinal, bom humor faz bem a saúde.

O problema foi quando começaram a aparecer os tais e-mails divulgando “fatos comprovados”, “dados verdadeiros” e “opiniões indiscutíveis de pessoas renomadas”. Aí a situação ficou lamentável!

Informações infundadas, fatos distorcidos, números apresentados de forma isolada para distorcer a realidade de sua origem, entre outros expedientes, inundaram minha caixa postal e quase mataram por afogamento meu senso crítico. Além, é claro, daquelas tais meias verdades, que carregam em sua metade avessa um prejuízo muito maior do que uma mentira por inteiro.

Não me julgo profundo conhecedor do assunto, mas procuro me manter bem informado, na medida do possível, principalmente não aceitando informações como realidades incontestáveis sem antes checar fontes e analisar sob a ótica do bom senso.

Infelizmente, a grande maioria do que se noticiava não cabia num molde mínimo de verdade sob os olhares de uma consulta criteriosa de fatos e dados, ou uma análise imparcial de opiniões.

Há mais de dois milênios e meio o filósofo grego Sócrates ensinou a aplicação, em situações como a de agora, daquilo que ele chamava de “as três peneiras”: a da verdade, a da bondade e a da utilidade. Caso não atravessasse uma delas que fosse, não havia razão para se passar uma informação adiante.

Parece que tantos séculos depois ainda não aprendemos a lição! Qual destas notícias passaria pela primeira peneira?

Sei que alguns vão evocar Maquiavel, alegando que “os fins justificam os meios”, na defesa de algum candidato que acreditem ser “muito melhor”, ou para exorcizar um candidato que julguem ser “muito pior”. Mas qual a nobreza desse fim, afinal de contas?

Seria para alcançar um maior nível de compreensão e politização de seus pares, com um debate mais consubstancial de idéias, ou apenas para garantir sua convicção político/partidária, reafirmando seu ego de dono da verdade? Se esse é o fim, creio que jamais haverá meios que o levem a um termo justo.

Assim, nessa ânsia de provar a qualquer custo sua pretensa verdade, vão para o espaço a lisura, o caráter e os princípios, cravando dentro da alma uma terrível dúvida: se agimos dessa forma em casos como esse, será que se estivéssemos no lugar dos tão mal afamados políticos eleitos faríamos diferente do que eles fazem? Temo que a diferença seja apenas uma questão de abrangência do meio afetado.

Tenho convicção de que cada um pode e deve defender seu ponto de vista político, mas é preciso que fique claro que em política não existem cordeiros e, portanto, em parte, todos podem ter sua dose de razão. Não cabe neste tipo de discussão a visão maniqueísta que os divide entre aqueles que representam o bem e aqueles que encarnam o mal.

Mais do que isso, acredito firmemente que a função de cada cidadão é informar e não desinformar ou deformar fatos. Aliás, antes ainda, é informar-se, a fim de que o eco de suas palavras sirva para lançar mais luz aos incautos e não vendar-lhes ainda mais os olhos.

Por isso, essa propagação desenfreada de “verdades cibernéticas” traz um dano tal ao senso de realidade dos cidadãos menos politizados que, se não for mudado nos próximos pleitos, receio, poderá demorar gerações para ser reparado.

Lamentavelmente, o verdadeiro resultado dessa eleição, aquele que fica oculto sob o véu dos números da apuração, mostrou um despreparo ético e moral da maioria daqueles que defendem seu candidato muito maior do que o despreparo intelectual dos eleitores, algo já patente em nossa nação.
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AUTOR: Alex Francisco Paschoalini - Escritor, autor dos livros "Caminho das flores" e "Sociedade dos Sete Caminhos". É Psicoterapeuta Holístico e seu blog é http://centroelemental.blogspot.com.
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COMENTÁRIO - Paulo Cesar Paschoalini:
Crônica pertinente ao momento, onde gostaria de destacar o equilíbrio e imparcialidade com que abordou o tema, numa época em que a "deformação" passou a ser mais importante que a própria informação.
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