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sábado, 15 de outubro de 2016

MEU TEXTO:


Conhecimento à venda

1 - INTRODUÇÃO:
E comum ouvirmos falar das vantagens de se colocar o filho numa boa escola, de dar a ele certo nível de estudo, amplamente reforçadas pela sabedoria popular de que “tudo pode ser tirado de alguém, menos o se adquire de conhecimento”.
Dessa forma, fica comum de se encontrar todas as facilidades nos dias de hoje para ingresso de estudantes, em especial no segmento universitário. Sob a forma de instituições de ensino, corporações empresariais criam condições para o acesso a cursos superiores, tornando a questão de ensino uma questão meramente mercadológica.
Mas seria a instituição de ensino a única responsável por esse panorama desfavorável, ou haveria também outros componentes que contribuiriam para esse diagnóstico negativo?
Esse trabalho tem como finalidade fazer uma análise sobre o artigo do Dr. Renato Nunes Bittencourt, que trata da situação educacional no Brasil, matéria de capa da revista “Filosofia – Ciência & vida”, de janeiro de 2013.

2.1 - ENSINO NO CAPITALISMO:
Vivemos num sistema capitalista e o objetivo principal é o de gerar lucros. Grandes empresas têm se aventurado nesse promissor filão comercial, se enveredando pelo segmento de ensino. Dessa forma, esse “comércio lucrativo” passa ser responsável pela busca desenfreada de diplomas, além de outros títulos, desde que se possa pagar pela obtenção deles. “O dinheiro é a medida de todas as coisas, e o lucro, seu objetivo principal”, sintetiza o filósofo e educador Paulo Freire.
A estrutura presente no ensino básico tem contribuído sobremaneira para o desenvolvimento de analfabetos funcionais, que são aqueles que têm dificuldade em se expressar por escrito suas ideias de maneira clara e com mínimo de conteúdo, ou deficiência na interpretação de textos.
Munido dessa bagagem escassa, o candidato ao ingressar em curso superior encontra todas as facilidades e, uma vez estudante universitário, tem “a seu favor” o objetivo da instituição para que haja índice mínimo de reprovação. Assim, aqueles que antes eram chamados de “alunos”, passam a ter o status de “clientes”. As autoridades públicas encarregadas de gerir os recursos destinados à educação, assumem papéis de gerentes na relação com seus consumidores, prejudicando o amadurecimento do estudante.
Com o tratamento de “estudante-cliente”, qualquer dificuldade de aprendizado e, principalmente, de aprovação, pode levá-lo nesse “sistema comercialista” a optar por outra instituição universitária para atingir seu objetivo, ficando evidente que a falta de qualidade deverá ser a tônica dessa sua trajetória acadêmica.
Na relação aluno professor, nos casos de reprovação ou falta de compreensão de conteúdo, a culpa normalmente recai sobre o docente, que acaba se colocando numa posição defensiva, sendo comuns os casos de assédio moral, quando passam a ser vítimas de injúrias, até mesmo de agressões, ou outras atitudes de desrespeito, que culminam na perda de autoridade. Com a inversão de papéis na importância hierárquica, ficam os professores sujeitos aos caprichos dos alunos e, com a anuência dos pais, evidencia-se a lógica do “pagou-passou”.

2.2 - O PAPEL DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO:
Podemos observar em todos os segmentos sociais a degradação dos valores morais, certamente decorrente da conturbada crise da estrutura familiar de hoje em dia. A consciência cidadã não tem sido tratada adequadamente no seio familiar, onde deveriam ser disseminados os conceitos de respeito e responsabilidade. Os pais, por sua vez, são negligentes ao não acompanharem o desenvolvimento dos filhos e mostram ter perdido o controle sobre eles, que se deixam levar por padrões ditados pela mídia.
Devido às imposições capitalistas, as obrigações profissionais fazem com que muitos pais se mostrem ausentes na educação dos filhos e acabam transferindo às instituições de ensino toda a responsabilidade que deveria ser iniciada em casa, desde os primeiros anos de vida. A desmoralização da família, que deveria ser a base para as demais relações sociais, acaba repercutindo no meio educacional formal.
Os estudantes passam a considerar o espaço educacional como ponto de encontro e local de lazer, colocando num plano inferior o estudo, que deveria ser o objetivo principal, não se realizando, portanto, existencialmente. Dessa maneira, a juventude alienada tem origem na decomposição da base da vida familiar, devido à passividade e falta de atitude dos pais, passando pela estrutura e qualidade de ensino deficiente, que resulta na visível desmoralização social que estamos presenciando.

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Sem dúvida nenhuma, estamos vivendo um momento delicado na relação humana. O conhecimento, que sempre foi objeto do pensamento filosófico, desde a antiguidade até os nossos dias, tem sido relegado à simples mercadoria de consumo e fonte de receitas para entidades com finalidades de ensino meramente comerciais.
Podemos notar que a estrutura capitalista é a principal responsável por essa situação preocupante. Pela sua dinâmica voltada exclusivamente para o binômio produção e consumo, além de interferir de maneira negativa para a qualidade de vida familiar, que repercute diretamente nas salas de aula, se propõe a participar da educação formal, movida por finalidades exclusivamente voltadas ao lucro.
Do ponto de vista do desenvolvimento humano, contribui para o aumento de alienados, focando muito mais no aumento do mercado de consumidores.
O artigo menciona que uma possível solução para esse imbróglio educacional flagrantemente comercial seria a criação de cooperativas educacionais e a consequente valorização do professor. Porém não devemos esquecer que o surgimento e implementação da política corporativista estão vinculados também ao interesse, responsabilidade e participação dos pais dos alunos, que atualmente não encontram tempo e condições para uma empreitada semelhante.
A questão do ensino requer, mais do quer nunca, amplos e exaustivos debates reflexivos. Destaque para a frase do artigo, que, não por acaso, utilizada também como fechamento da análise do texto publicado: “Não podemos deixar que a flama do saber se converta na lama da ignorância”.

4 - REFERÊNCIA:
BITTENCOURT, Renato Nunes, Conhecimento à venda. Filosofia Ciência & Vida, São Paulo, ano VII, n. 78, p. 14-22, jan. 2013.

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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO: Trabalho apresentado como componente curricular de AACC - Atividade Acadêmica Cultural e Científica, durante a graduação em Licenciatura em Filosofia, pela Faculdade "Claretiano - Rede de Educação", Polo de Rio Claro-SP.
Em razão de hoje ser comemorado o “Dia do Professor”, eu achei por bem postar meu trabalho sobre o artigo publicado na Revista “Filosofia Ciência & Vida”, em que autor mostra a sua maneira particular de ver o momento em que vive o Sistema Educacional no Brasil, o que nos leva obrigatoriamente a uma reflexão a respeito. A imagem escolhida foi utilizada como ilustração do referido texto na época e consta do Portal da mencionada revista.
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