A pedra no caminho de Drummond
POESIA: No meio do
caminho
(Carlos Drummond de
Andrade – 1928)
No meio do caminho tinha
uma pedra
Tinha uma pedra no meio
do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha
uma pedra
Nunca me esquecerei
desse acontecimento
Na vida de minhas
retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que
no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio
do caminho
No meio do caminho tinha
uma pedra.
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No ano de 1928, Carlos
Drummond de Andrade publicava o poema “No meio do Caminho”, na Revista de
Antropofagia de São Paulo, o que na época acarretou muitas críticas da
imprensa. Chegaram a afirmar, por exemplo, que o texto não era poesia, mas uma
espécie de provocação, em razão da repetição existente no poema.
A receptividade foi
negativa, devido não somente pelo excesso da expressão “tinha uma pedra”, mencionada
7 vezes nos 10 versos, como também por não ter sido utilizado “havia uma
pedra”, considerada mais adequada e mais poética.
O que levou o poeta a
escrever o esse texto é algo que desperta algumas discussões e comentários até
hoje. Com apenas 26 anos, o jovem Drummond ainda lecionava em Itabira, sua
cidade natal, mas estava cansado da vida do interior e buscava talvez algo mais
desafiador.
Desse modo, a deliberada
menção, à exaustão, de “tinha uma pedra”, nos remete às coisas que se repetem
no cotidiano, à cansativa e enfadonha rotina, que desgasta e muitas vezes pode
desencorajar na busca de novos horizontes. No seu caso, em particular, se
referia às limitações que a cidadezinha mineira impunha para divulgação do seu
talento.
Sobre a tal
"pedra", poderia ser entendida como uma série de obstáculos que se
apresentavam, que talvez o dificultasse de seguir um novo caminho pretendido,
que ele sentia que já começava a se desenhar na sua vida.
Drummond, no entanto,
foi capaz não somente de superar uma simples pedra. Mais do isso, ele acabou
transpondo as fronteiras das montanhas que cercam sua cidade natal e imprimiu
não apenas simples passos, mas foi capaz de traçar uma nova tendência
literária.
No meio do caminho de
todos nós existem pedras. Mas esses obstáculos não devem limitar nossos sonhos
e objetivos de vida. E, mesmo depois de superado cada um deles, você também não
se esquecerá que “no meio do caminho tinha uma pedra”... E outra pedra... E
mais outra!...
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TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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COMENTÁRIO: O texto foi publicado na "Revista Vicejar", em 30.10.2018, onde o autor é colaborador, sendo que seus textos são publicados regularmente. Para ler mais acesse:
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